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Levantamento do projeto Cultura na Faixa revela vínculos históricos com o bairro e aponta urgência em políticas públicas de cultura e inclusão

Um levantamento inédito realizado pelo projeto Cultura na Faixa, promovido no Weda, em Itaguaí (RJ), mostrou que 87% dos jovens inscritos se autodeclaram negros — sendo 55% pardos e 32% pretos. A maioria é formada por crianças e adolescentes entre 6 e 16 anos, e os dados refletem não apenas o perfil racial do público atendido, mas também sua conexão profunda com o território e a escassez de oportunidades culturais disponíveis.
O dado faz parte de uma análise detalhada do perfil socioeconômico dos inscritos no projeto, com base nas inscrições preenchidas pela comunidade durante o processo de adesão às atividades.
A pesquisa apontou ainda que 74,9% dos participantes moram no bairro há mais de cinco anos, sendo que 6,5% vivem ali há mais de duas décadas. Mesmo em meio à ausência de saneamento básico, insegurança e carência de equipamentos públicos como praças, bibliotecas e centros culturais, a comunidade permanece e resiste.
“O Weda é mais do que um território carente. É um território de resistência. Essas pessoas estão aqui há décadas, construindo suas vidas em meio a condições duríssimas. Nosso desafio é ativar o potencial criativo dessas trajetórias”, comenta Walter Mesquita, Gerente de Projeto do Cultura na Faixa.
As condições de vida no bairro refletem desigualdades históricas, mas também um senso de apropriação coletiva. Crianças e adolescentes improvisam campos de futebol próximos ao duto da Transpetro, transformando o pouco espaço disponível em área de convivência.
O recorte de gênero também chama atenção: 67% dos inscritos são mulheres. Além disso, 9% declararam possuir algum tipo de deficiência ou transtorno do desenvolvimento, como trissomia, deficiência física e esquizofrenia. A abertura do projeto à participação dessas pessoas reforça o compromisso com os princípios da Agenda 2030 da ONU, especialmente com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável voltados à redução das desigualdades.
Do ponto de vista religioso, os participantes se distribuem entre evangélicos (54,8%), católicos (19,4%) e pessoas sem religião (20,4%). Nenhum dos inscritos declarou seguir religiões de matriz africana.
“O projeto nasce do reconhecimento da diversidade humana. Nosso papel é abrir espaço para que todas essas vozes e corpos possam se expressar e ocupar os espaços públicos com dignidade”, afirma Geraldo Bastos, gerente de Recursos Humanos e mobilização social do Cultura na Faixa.
O Cultura na Faixa é uma iniciativa da ONG Se Essa Rua Fosse Minha (SER), realizada por meio de convênio com a Transpetro, e oferece oficinas culturais no Jardim Weda desde outubro de 2024. As atividades incluem circo social, trança afro, futebol e folia de reis.
O Weda foi a primeira a região a receber o projeto, que seguirá para o bairro Geneciano, em Nova Iguaçu. A nova casa já está com inscrições abertas na sede do projeto (Av. Nossa Sra. de Nazaré, 181 – Geneciano, Nova Iguaçu)
Sobre o Cultura na Faixa
O Projeto Cultura na Faixa é uma iniciativa sociocultural e educacional voltada para comunidades situadas nas faixas de dutos da Transpetro, na Baixada Fluminense (RJ). Seu objetivo é fortalecer vínculos comunitários, promover a convivência em grupo e prevenir situações de risco social, criando espaços seguros e colaborativos. Alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030, o projeto promove cultura de paz e desenvolvimento comunitário, ampliando seu impacto por meio de parcerias com a sociedade civil e o setor privado. Cada área atendida conta com uma base de apoio comunitária, garantindo presença fixa e reforçando o sentimento de pertencimento junto à comunidade.
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