Adolescente que matou pais e irmão em Itaperuna se inspirou em jogo de terror, diz polícia

Namorada virtual do autor dos disparos chegou a sugerir matar a própria mãe; delegado fala em “sadismo” e “frieza” nas conversas entre o casal

Adolescente que matou pais e irmão em Itaperuna se inspirou em jogo de terror, diz polícia

A chocante execução de três membros de uma mesma família em Itaperuna, no Norte Fluminense, ganhou contornos ainda mais perturbadores com o avanço das investigações. Segundo reportagem publicada pelo jornal O Globo, a Polícia Civil concluiu que o adolescente de 14 anos responsável pelos disparos que mataram o pai, a mãe e o irmão caçula, de apenas 3 anos, agiu com planejamento detalhado e sob influência de um jogo de “terror psicológico”, que teria servido de inspiração para os crimes. A namorada virtual do jovem, uma adolescente de 15 anos, também foi apreendida e é apontada como cúmplice.

Os dois se relacionavam à distância há cerca de um ano, mas mantinham contato virtual havia seis anos. Segundo o delegado Carlos Augusto da Silva, titular da 143ª Delegacia de Polícia, os adolescentes não jogavam diretamente o game, mas acompanhavam conteúdos relacionados e se identificavam com seus personagens: um casal de irmãos incestuosos que matavam os próprios pais. O jogo, segundo o policial, chegou a ser banido na Austrália e classificado como conteúdo para maiores de 18 anos.

— Eles se espelhavam nesse enredo, apesar de não jogarem efetivamente. É um jogo de terror bastante sombrio. A partir da análise das conversas, ficou claro que havia premeditação, planejamento e atos preparatórios. Foi uma barbaridade — disse o delegado.

Namorada, também menor, foi apreendida em Mato Grosso do Sul

A adolescente foi apreendida em Mato Grosso do Sul nesta segunda-feira (1º), e negou envolvimento direto no crime. No entanto, a polícia afirma que as mensagens trocadas entre o casal indicam sua participação ativa antes, durante e após os assassinatos. A investigação aponta que ela estimulava o namorado constantemente e chegou a fazer chantagens emocionais para convencê-lo a agir.

— Ela o induziu, instigou e manipulou. Falava sobre as mortes, sobre como esconder os corpos, o uso de cães farejadores, e até sugeriu jogá-los para porcos. É de um desprezo completo pela vida — relatou Carlos Augusto.

Entre os diálogos analisados, o casal discutia os métodos de execução — se usariam faca ou arma de fogo — e a ordem em que as vítimas seriam mortas. Uma das mensagens indicava que o pai deveria ser eliminado primeiro, para evitar reação ao ataque contra mãe e irmão. A garota também teria sugerido que o namorado colocasse a arma nas mãos do irmão caçula para forjar uma cena de suicídio ou envolvimento do menino.

Durante a execução, os pais do garoto estavam sob efeito de um remédio para dormir, o que facilitou os disparos. A arma, uma pistola que pertencia ao pai, foi escondida debaixo do travesseiro do adolescente. Segundo a polícia, ele usou uma fronha para cobrir a arma e evitar deixar impressões digitais. Após o crime, ele teria enviado uma foto da cena à namorada, que respondeu dizendo ter sentido “nojo”, mas sugeriu que ele limpasse tudo usando luvas.

— A frieza com que agiu é alarmante. Ele não demonstra qualquer arrependimento. Disse que não se arrepende e que faria tudo de novo — contou o delegado.

Adolescente buscou formas de acessar FGTS do pai

A motivação do crime, segundo os investigadores, combina fatores emocionais e financeiros. A menina teria pressionado o garoto para visitá-la no Mato Grosso do Sul, inclusive ameaçando terminar o relacionamento se ele não viajasse. Para isso, os adolescentes planejaram a venda do carro e da casa da família, além de buscar formas de acessar o FGTS do pai. A polícia acredita que a viagem do pai, cancelada de última hora, frustrou parte dos planos do garoto, que pretendia roubar a quantia recebida pela viagem como parte do financiamento da mudança.

A arma do crime foi encontrada na casa da avó do adolescente, que relatou à polícia ter encontrado o objeto e decidido escondê-lo por precaução. Ela não é investigada como participante ou cúmplice.

O computador da jovem foi apreendido pela Polícia Civil do Mato Grosso do Sul e será encaminhado ao Rio para perícia. A polícia quer saber se ela mantinha contatos semelhantes com outras pessoas pela internet.

A brutalidade do caso e o envolvimento calculado dos adolescentes levantam preocupações sobre os efeitos de conteúdos violentos consumidos por menores de idade e a influência da internet em crimes reais. A apatia demonstrada pelo jovem e a frieza com que detalhou os assassinatos à polícia chamaram a atenção dos investigadores.

— É um menino frio, calculista, que se autoafirma como homem e demonstra traços de psicopatia. Ou tudo foi meticulosamente premeditado, ou estamos diante de alguém extremamente inteligente — concluiu o delegado.

Fonte Agenda do Poder

Por Jornal da República em 02/07/2025
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