Alerj avança com PEC que pode elevar salários de deputados estaduais

 Alerj avança com PEC que pode elevar salários de deputados estaduais

Comissão de Constituição e Justiça aprova por 4 votos a 3 proposta que retira teto salarial vinculado aos congressistas federais

A Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) deu um passo controverso ao aprovar, por margem apertada de 4 votos a 3, a adesão a uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) elaborada pela União Nacional dos Legisladores e Legislativos Estaduais (Unale). A decisão, tomada pela Comissão de Constituição e Justiça, pode abrir caminho para aumentos salariais significativos dos deputados estaduais fluminenses em um momento de grave crise fiscal do estado. A proposta quebra uma regra constitucional que limita os vencimentos dos parlamentares estaduais a 75% do salário dos congressistas nacionais, permitindo que as assembleias definam seus próprios valores sem qualquer teto de referência federal. O timing da aprovação gera ainda mais polêmica, considerando as dificuldades financeiras enfrentadas pelo Rio de Janeiro e a precariedade dos serviços públicos oferecidos à população. A medida representa uma mudança estrutural no sistema de remuneração do Poder Legislativo estadual, transferindo total autonomia para os próprios beneficiários decidirem sobre seus vencimentos.

Mudança constitucional em debate

A PEC da Unale propõe uma alteração fundamental na Constituição Federal, especificamente no artigo que estabelece o teto remuneratório para deputados estaduais. Atualmente, a Carta Magna determina que os salários dos parlamentares estaduais não podem ultrapassar 75% dos vencimentos recebidos pelos deputados federais e senadores. Esta regra foi criada como mecanismo de controle e proporcionalidade entre as diferentes esferas do Poder Legislativo. Com a aprovação da emenda, as assembleias legislativas estaduais ganhariam total liberdade para fixar os valores de seus subsídios, sem qualquer vinculação ou limitação baseada nos salários do Congresso Nacional. A mudança representa uma ruptura com o princípio de hierarquia remuneratória entre os poderes federal e estadual, estabelecido pelos constituintes de 1988. Especialistas em direito constitucional alertam que a medida pode criar disparidades regionais significativas e comprometer o equilíbrio federativo do país.

Cenário fiscal preocupante no Rio

O Estado do Rio de Janeiro atravessa uma das piores crises fiscais de sua história, com dívidas que superam R$ 170 bilhões e dificuldades crônicas para honrar compromissos básicos com servidores e fornecedores. A situação financeira precária se reflete diretamente na qualidade dos serviços públicos oferecidos à população, com hospitais em estado crítico, escolas sem recursos adequados e forças de segurança operando com limitações orçamentárias severas. Profissionais essenciais como professores, médicos, enfermeiros e policiais enfrentam atrasos salariais recorrentes e condições de trabalho deterioradas, enquanto a infraestrutura pública se degrada progressivamente. O governo estadual tem recorrido constantemente a empréstimos e renegociações de dívidas para manter o funcionamento mínimo da máquina pública. Neste contexto de austeridade forçada e sacrifícios impostos aos servidores públicos, a possibilidade de aumento salarial para deputados gera revolta e questionamentos sobre prioridades orçamentárias.

Reação política e social

A aprovação da medida na Comissão de Constituição e Justiça provocou reações imediatas de diferentes setores da sociedade fluminense e da classe política. Deputados contrários à proposta argumentam que o momento é inadequado para discussões sobre aumentos salariais no Legislativo, considerando as dificuldades enfrentadas pela população e pelos servidores públicos estaduais. Sindicatos de servidores públicos manifestaram indignação com a decisão, destacando o contraste entre a situação precária de suas categorias e a possibilidade de melhoria remuneratória para os parlamentares. Organizações da sociedade civil e movimentos de transparência pública criticaram duramente a iniciativa, classificando-a como desconectada da realidade social e econômica do estado. A opinião pública, já desgastada com escândalos de corrupção e má gestão, demonstra crescente insatisfação com a classe política fluminense. Especialistas em gestão pública alertam para os riscos de uma medida que pode ampliar ainda mais o fosso entre representantes e representados.

Argumentos técnicos e contrapontos

Defensores da PEC argumentam que a autonomia remuneratória é necessária para garantir a independência e o fortalecimento do Poder Legislativo estadual, permitindo que as assembleias atraiam profissionais qualificados e mantenham estruturas adequadas de funcionamento. Segundo esta visão, salários competitivos são essenciais para evitar a captura do poder público por interesses econômicos privados e garantir que os parlamentares possam se dedicar integralmente ao mandato. A proposta também é justificada pela necessidade de equiparação com outros poderes e pela correção de distorções históricas na remuneração do Legislativo estadual. Por outro lado, críticos apontam que a medida representa um cheque em branco para aumentos descontrolados, sem mecanismos de controle social ou critérios objetivos de definição salarial. A ausência de contrapartidas em termos de produtividade, transparência ou resultados legislativos torna a proposta ainda mais questionável aos olhos da sociedade. Economistas alertam que a medida pode agravar desequilíbrios fiscais já existentes nos estados e criar precedentes perigosos para outros poderes.

Próximos passos e tramitação

A aprovação na Comissão de Constituição e Justiça representa apenas o primeiro passo de um longo processo legislativo que ainda precisa percorrer várias etapas antes de se tornar realidade. A proposta deve ser submetida ao plenário da Alerj para votação em dois turnos, exigindo maioria qualificada para aprovação definitiva no âmbito estadual. Posteriormente, a PEC precisa ser aprovada por pelo menos 27 assembleias legislativas estaduais para que possa tramitar no Congresso Nacional, onde enfrentará novo processo de votação em ambas as casas. O cronograma de tramitação pode se estender por meses ou até anos, dependendo da receptividade da proposta nos demais estados e da pressão social exercida sobre os parlamentares. Movimentos sociais já anunciam mobilizações para pressionar os deputados a rejeitarem a medida no plenário da Alerj. A sociedade civil organizada promete acompanhar de perto cada etapa do processo, utilizando mecanismos de transparência e controle social para influenciar o debate público sobre a questão.

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Por Jornal da República em 10/10/2025
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