Aliados de Pampolha assumem diretorias da Cedae após votação decisiva no TCE

Nomeações ocorreram em meio à disputa sobre indenização de R$ 900 milhões e avançaram após voto que transferiu custo do acordo para a estatal

Aliados de Pampolha assumem diretorias da Cedae após votação decisiva no TCE

Dois aliados do ex-vice-governador do Rio Thiago Pampolha, hoje conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE), assumiram cargos de diretoria na Cedae nos últimos meses, em um contexto marcado por votações sensíveis na Corte e por uma disputa bilionária envolvendo o governo estadual e a concessionária Águas do Rio.

As nomeações ocorreram em momentos distintos, mas guardam relação direta com o desfecho do acordo que atribuiu à Cedae o pagamento de uma indenização estimada em R$ 900 milhões.

Os indicados são José Ricardo Ferreira de Brito e Philipe Campello, ambos com passagem pela Secretaria de Meio Ambiente durante o período em que Pampolha comandava a pasta. As indicações avançaram enquanto o Tribunal de Contas analisava a legalidade e a moralidade do acordo proposto pelo governo do estado.

Indicações em momentos-chave

A primeira nomeação foi formalizada no início de outubro, quando o governador Cláudio Castro encaminhou ofício ao conselho de administração da Cedae sugerindo o nome de José Ricardo Ferreira de Brito para a Diretoria de Saneamento e Grande Operação. Àquela altura, governo e Cedae divergiam sobre quem deveria arcar com a indenização reclamada pela Águas do Rio por supostos erros no edital de concessão.

Brito havia sido subsecretário de Meio Ambiente e chegou a assumir interinamente a secretaria entre abril e dezembro de 2022, período em que Pampolha disputava a eleição. A nomeação ocorreu poucos dias após a diretoria da Cedae comunicar que acataria uma determinação do governo para indenizar a concessionária, embora reiterasse não reconhecer responsabilidade pelos prejuízos apontados.

A criação de nova diretoria

A segunda indicação ocorreu no mês seguinte, com a criação da Diretoria de Sustentabilidade da Cedae. Para viabilizar o novo cargo, foi necessária uma alteração no estatuto da companhia, movimento que contou com a atuação de aliados do governador no conselho de administração.

Philipe Campello, ex-presidente do Instituto Estadual do Ambiente, foi aprovado para o posto em reunião realizada no dia 26 de novembro. A ata não registra a autoria do ofício de indicação.

No mesmo dia, o TCE concluiu o julgamento que autorizou o acordo de indenização, com a Cedae assumindo a conta. A coincidência temporal reforçou questionamentos internos sobre o encadeamento dos atos administrativos e das decisões no âmbito do controle externo.

Voto decisivo no Tribunal de Contas

O acordo havia sido suspenso em meados de outubro por decisão do conselheiro José Gomes Graciosa, após denúncia apresentada por deputados estaduais. Na decisão, Graciosa apontou dúvidas sobre a moralidade do arranjo e afirmou não encontrar base técnica para o valor estimado da indenização.

Ao retomar o processo em novembro, Pampolha abriu divergência e votou pela liberação do acordo, sustentando que a atuação do Tribunal deveria ser pautada pela autocontenção e não interferir no diálogo entre os envolvidos na concessão. Seu voto foi decisivo para a formação da maioria, que aprovou o entendimento por quatro votos a três.

Contexto político e rearranjos

Brito e Campello haviam deixado a Secretaria de Meio Ambiente no início de 2024, após a saída de Pampolha da pasta. À época, o então vice-governador foi demitido em meio a tensões políticas geradas por sua filiação ao MDB e pela articulação de uma possível candidatura ao governo em 2026, movimento que contrariava planos do Palácio Guanabara.

Brito foi posteriormente alocado na Secretaria de Esporte e Lazer e deixou o cargo para assumir a diretoria na Cedae. Campello, por sua vez, foi nomeado na Secretaria de Governo em junho de 2025, após um acordo político que levou Pampolha ao Tribunal de Contas. Segundo relatos, esse entendimento já previa a distribuição de cargos na estatal.

Procurado, Pampolha não respondeu. Em nota, o governo do estado e a Cedae afirmaram que os dois diretores foram avaliados e aprovados pelo conselho de administração com base em seus currículos e na experiência acumulada em áreas estratégicas do poder público.

Via Agenda do poder

Por Jornal da República em 23/12/2025
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