Bandeirões, torneios de pelada e projeções: coletivo usa criatividade para renovar ativismo de esquerda

Coletivo Alvorada busca ampliar o debate sobre justiça social, democratização do sistema tributário e defesa do meio ambiente

Bandeirões, torneios de pelada e projeções: coletivo usa criatividade para renovar ativismo de esquerda

A luta por justiça tributária, contra a jornada 6×1 e o PL da Devastação, e pela isenção do Imposto de Renda de quem ganha até R$ 5 mil, além de outros temas que beneficiam a população de renda mais baixa, ganhou enorme repercussão e engajamento nas redes sociais nas últimas semanas.

Essas pautas também ganharam as ruas, com atos e movimentos espalhados por todo o país. Com o uso da criatividade e maior conexão popular, um grupo busca chamar a atenção para esses temas e revigorar o ativismo político no campo progressista. É o Coletivo Alvorada, de Minas Gerais.

A mobilização é feita através de  atos, projeções, jogos de futebol e outras intervenções inovadoras.

O movimento urgiu em 2016 e iniciou neste ano, a “Jornada de lutas”. “A gente nasce com o objetivo de levantar a moral da tropa, levantar a moral da militância. A gente vai desenvolvendo tecnologias de uma forma de militância diferente, com intervenções teatrais, performances, projeções em prédios e bandeirões. É um jeito de levar a luta para as ruas, conectada com as redes”, explica Pedro Martins, produtor cultural e um dos coordenadores do Coletivo Alvorada.

“A gente entende que só as questões nas redes sociais não resolvem. A gente precisa transformar esse momento das redes em um movimento orgânico”, acredita.

Nas últimas semanas, o grupo realizou diversas ações, como a exibição de faixas em defesa da taxação dos super-ricos em comunidades periféricas, projeções em edifícios, dentre outras. Um dos destaques são os “Jogos pela Soberania/ Justiça Tributária”, com equipes de futebol de várzea em favelas disputando um torneio para levar consciência de classe através do futebol.

“A gente sempre traz a criatividade para a militância no campo progressista. É uma forma de trabalhar o imaginário das pessoas, levando perguntas, afirmações, levando frases interessantes. O nosso foco agora nessa nova tarefa, que é a campanha da justiça tributária, é trabalhar com dois públicos: a classe média e a periferia”, diz Pedro Martins.

No último fim de semana, por exemplo, o grupo esteve no Rio de Janeiro, onde exibiu uma faixa gigante com o questionamento “Por que no Brasil, super-ricos não pagam imposto de renda?” do alto dos morros do Vidigal e da Rocinha, na Zona Sul da capital fluminense. A faixa também foi exibida por um avião em praias da cidade. Na Rocinha, também ocorreu uma partida dos “Jogo da Soberania”.

“É empoderar e dar apoio e voz às periferias para entrarem nessa luta e levar um pouco de consciência de classe também, debater, formação política e tudo mais. Quando a gente vai na Rocinha, vai no Vidigal, é a Rocinha que está perguntando por que o super-rico não paga imposto e nós, trabalhadores, carregamos esse país nas costas”, ressalta Pedro Martins.

coletivo

Ação do coletivo na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro. (Foto: Divulgação)

Em outro ato recente no Rio de Janeiro, o coletivo Alvorada abriu, no monumento do Cristo Redentor, uma faixa com os dizeres “Stop the genocide in Gaza” (“Parem o genocídio em Gaza, em tradução livre).

Em Belo Horizonte, cidade onde nasceu o coletivo, o grupo tem feito projeções em prédios com frases de protesto e em defesa das pautas do movimento. “Não quis usar máscara, mas tornozeleira vai usar”; “O PL da Devastação passou no Congresso inimigo do povo. Agora vamos ao STF”; “Parem o Zema e salvem Minas Gerais”; “Pela taxação dos super-ricos já!”; “Contra a jornada 6×1, já!” foram algumas das projeções feitas.

Ação em prédio de Belo Horizonte, em Minas Gerais

Coletivo Alvorada

O coletivo Alvorada surgiu no ano de 2016, formado por um grupo de amigos de esquerda de Minas Gerais que se uniram contra o impeachment da então presidente Dilma Rousseff (PT). “Era um grupo de amigos indignados com tudo que estava acontecendo no país naquele momento, já sentindo que muita coisa poderia vir a acontecer, como aconteceu”, diz Pedro Martins.

“A gente começa a se organizar como resistência, na defesa da democracia. Tudo nasce em um grupo de WhatsApp que vai crescendo e aí, a gente, de lá pra cá, vem fazendo centenas de lutas e atos”, completa.

Coletivo

Ação em prédio de Belo Horizonte, em Minas Gerais

Desde então, o grupo se financia com a ajuda voluntária de seus participantes e apoiadores. No próximo ano, com a comemoração de 10 anos do coletivo, o movimento pretende lançar uma associação para conseguir parcerias e recursos.

Nos próximos dias, o coletivo Alvorada vai lançar a Kombi Alvorada, como parte das ações da Jornada de Luta. A Kombi vai rodar bares e eventos, primeiramente de Belo Horizonte, distribuindo panfletos e explicando sobre as pautas do movimento. Neste domingo (27), será realizado o próximo Jogo da Soberania, em campanha pela Justiça Tributária. A partida acontecerá às 10:30 da manhã, no Campo do Canaense, em Lagoa Azul, na cidade de Ibirité, em Minas Gerais.

O coletivo também está preparando panfletos para serem distribuídos em comunidades. Veja alguns exemplos:

Por Jornal da República em 26/07/2025
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