CCBB vira epicentro da cultura periférica com Festival Arranque! que celebra o som das quebradas

Evento gratuito transforma centro cultural em palco para DJs e artistas das periferias de todo o Brasil até sábado

CCBB vira epicentro da cultura periférica com Festival Arranque! que celebra o som das quebradas

O Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro se transformou em território da resistência cultural periférica com a abertura do Festival Arranque!, edição especial do projeto Paredão Ocupa o Museu.

O evento, que começou na quinta-feira (17) e segue até sábado (19), representa um marco histórico ao levar para um dos principais espaços culturais do país as expressões sonoras das quebradas, periferias e interiores brasileiros.

A programação gratuita ocupa diferentes ambientes internos e externos do CCBB, criando uma experiência imersiva que vai além da música. Shows, debates e exibições cinematográficas se entrelaçam para formar um panorama completo das culturas sonoras populares que pulsam nas ruas do Brasil, mas raramente encontram espaço em instituições culturais tradicionais.

Ancestralidade e empoderamento marcam a primeira noite.

A abertura do festival ficou por conta da DJ Bieta Original, que trouxe um set marcado por brasilidades eletrônicas, afro-house e elementos ancestrais. Para a artista pernambucana, a apresentação representou mais que uma performance: foi um ritual de abertura de caminhos para todo o evento.

"Meu trabalho já vem com essa questão da ancestralidade, então trouxe esse axé, esse ano para o festival acontecer da melhor forma possível", explicou a DJ, que incorporou instrumentos tradicionais como agogô, xequerê e tambor, além de elementos estéticos do afrofuturismo. O set contou com a participação de bailarinas e da cantora QueenB Rull, criando uma experiência multissensorial que conectou som, dança e performance visual.

O ápice da primeira noite veio com Valesca Popozuda, ícone indiscutível do funk carioca que incendiou o quintal do CCBB.

A artista, que iniciou sua trajetória nos anos 2000 à frente da Gaiola das Popozudas, demonstrou por que permanece como referência no gênero ao apresentar sucessos como "Beijinho no Ombro" e "Agora Eu Sou Solteira".

Diversidade regional em destaque.

A programação da primeira noite também trouxe RDD, nome por trás do projeto ÀTTØØXXÁ da Bahia, e o coletivo Baile da DZ7, direto de Paraisópolis, São Paulo.

Essa diversidade regional é uma das marcas do festival, que reúne artistas de diferentes estados para mostrar como os paredões automotivos se transformaram em plataformas de identidade, trabalho e celebração em todo o território nacional.

Para os próximos dias, estão confirmados nomes como DJ Jeffdepl (Piauí), Paulilo Paredão (Bahia), Cabra Guaraná (Distrito Federal), DJ Boneka (Pernambuco), DJ Méury (Pará) e Emme Paixão (Maranhão), que promete unir poesia falada, batidas eletrônicas e performance queer em seu pocket show.

Reflexões sobre direito ao som e resistência cultural.

Durante o dia, mesas de debate abordam questões fundamentais sobre o direito ao som nas ruas, disputas pelo espaço público e o papel dos ritmos periféricos como forma de resistência cultural.

Os encontros reúnem pesquisadores, artistas, ativistas e produtores para refletir sobre as potências e desafios das culturas sonoras populares, criando um espaço de diálogo crítico sobre temas que transcendem o entretenimento.

A mostra de filmes complementa a programação com curtas e um longa-metragem que retratam os paredões e a cena do som automotivo em diferentes regiões brasileiras, incluindo Belém, Salvador, Recife, São Paulo e interior do Paraná. O destaque fica para o documentário "Terror Mandelão", que mergulha na cena do funk paulista através da trajetória de DJ K, o Bruxo.

Ocupação cultural como ato político.

O Festival Arranque! Representa mais que uma programação cultural: é um ato político de ocupação de espaços tradicionalmente reservados à cultura erudita.

Apresentado pelo Ministério da Cultura e Banco do Brasil, o projeto celebra a pluralidade sonora e territorial brasileira, democratizando o acesso a expressões culturais que historicamente foram marginalizadas.

A entrada gratuita, sem necessidade de retirada antecipada de ingressos, reforça o caráter democrático do evento e permite que diferentes públicos tenham acesso a uma programação que raramente encontra espaço em grandes centros culturais.

O festival se consolida como uma celebração da diversidade cultural brasileira e um exemplo de como as instituições podem se abrir para as expressões periféricas.

Texto por Bárbara Reis. Fotos por Tatiana Coelho.

Por Jornal da República em 20/07/2025
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