Com prazo vencido, BC adia resposta ao TCU sobre liquidação do Banco Master

Em outra frente, credores do banco só devem ser ressarciados no ano que vem

Com prazo vencido, BC adia resposta ao TCU sobre liquidação do Banco Master

O Banco Central (BC) tinha até o meio-dia desta sexta-feira (26) para encaminhar ao TCU (Tribunal de Contas da União) a justificativa para a decretação da liquidação extrajudicial do Banco Master. Porém, a autoridade monetária decidiu adiar o envio para a semana que vem, segundo informações publicadas no site UOL.

A decisão ocorre apesar de o prazo de 72 horas fixado pela Corte ter expirado ao meio-dia de hoje. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, o envio foi adiado em razão do recesso do TCU, que analisa se a medida adotada em novembro foi precipitada.

Uma fonte próxima ao governo afirmou que a justificativa será apresentada após o fim do recesso de Natal do tribunal, iniciado em 17 de dezembro e previsto para terminar em 16 de janeiro. Ainda não está claro, porém, se a legislação permite a suspensão do prazo nesse caso específico.

Embora a Resolução 360/2023 do TCU autorize a interrupção de prazos processuais durante recessos, a norma abre exceção para procedimentos relacionados à adoção de medidas cautelares — enquadramento aplicado ao caso do Banco Master.

Com o descumprimento do prazo, o TCU pode adotar providências, como dar andamento ao julgamento com base apenas nas provas já reunidas. Na ausência de uma manifestação formal do BC, o tribunal pode inclusive decidir pela anulação da liquidação extrajudicial.

Procurados pela reportagem do UOL, o Banco Central e o TCU não responderam aos pedidos de esclarecimento.

BC sob pressão

A exigência de explicações partiu do ministro do TCU Jhonatan de Jesus, que apontou inconsistências na condução do processo pelo BC. Entre os pontos levantados está a alegação de que o regulador teria descartado alternativas de mercado antes de decretar a liquidação, como uma proposta de aquisição apresentada pelo Grupo Fictor, estimada em R$ 3 bilhões.

Outro aspecto questionado é a cronologia dos fatos. O TCU destaca que a liquidação foi decretada no mesmo dia em que a Polícia Federal prendeu o controlador do banco, Daniel Vorcaro, e outros executivos. Para o tribunal, a coincidência levanta dúvidas sobre se a decisão do BC foi baseada em critérios estritamente financeiros ou se sofreu influência do avanço das investigações criminais.

O ministro também cobra esclarecimentos sobre a avaliação de insolvência do banco. O BC precisará demonstrar se o Master estava efetivamente sem recursos para honrar suas obrigações ou se a liquidação foi adotada como resposta às suspeitas de fraudes estimadas em R$ 12,2 bilhões, identificadas pela Polícia Federal.

O Banco Central, por sua vez, sustenta que a retirada do Master do mercado foi necessária diante da dimensão e da recorrência das irregularidades. Segundo o regulador, o banco utilizava carteiras de crédito fictícias para ocultar dificuldades financeiras, o que poderia representar risco sistêmico.

As investigações seguem em andamento, com depoimentos de executivos do Master e de técnicos do próprio BC sobre a existência dessas carteiras.

STF no meio do enrosco

Paralelamente, o caso ganhou novos contornos políticos e institucionais após a revelação de um contrato de R$ 129 milhões firmado entre o Banco Master e o escritório de advocacia de Viviane de Moraes, mulher do ministro do STF Alexandre de Moraes. O serviço prestado não foi detalhado, e o episódio levantou questionamentos sobre possíveis conflitos de interesse. Reportagem do jornal O Globo afirmou ainda que o ministro teria tentado interceder junto ao BC em favor do Master, o que foi negado por Moraes em nota oficial.

O silêncio do ministro sobre o valor do contrato e a ausência de explicações do escritório ampliaram a tensão em Brasília, atingindo o Executivo, o Judiciário e o mercado financeiro, que acompanha de perto o desfecho do caso.

Pagamento a credores fica para 2026

Até esta sexta-feira (26), o interventor responsável pela liquidação do Banco Master ainda não havia encaminhado ao FGC (Fundo Garantidor de Créditos) a lista de credores que têm direito ao ressarcimento, segundo apuração da CNN. Com isso, os pagamentos devem ser adiados para 2026.

O FGC estima ressarcir cerca de 1,6 milhão de credores, entre pessoas físicas e jurídicas, em um montante de R$ 41 bilhões — a maior operação desse tipo já realizada no país. Pelas regras do fundo, são garantidos valores de até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ.

Para que os pagamentos comecem, o liquidante precisa formalizar a relação de credores. Após o recebimento da lista, o FGC tem prazo de dois dias úteis para iniciar os ressarcimentos, mas não há tempo hábil para que isso ocorra ainda neste ano.

O BC nomeou a EFB Regimes Especiais de Empresas como liquidante, sob responsabilidade técnica de Eduardo Felix Bianchini, servidor aposentado do Banco Central com experiência em processos semelhantes.

Por Jornal da República em 28/12/2025
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