De Lançamento a Frustração da Maricá Filmes: A plataforma de streaming de Quaquá completa um ano de promessas vazias e gestão questionável

Foto: Mais R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais) jogados fora, a plataforma é tão ruim que nem o corretor de português passaram, erros crassos estão espalhados pelo site, já de cara quando acessa, um erro de português 'INCREVA-SE'

De Lançamento a Frustração da Maricá Filmes: A plataforma de streaming de Quaquá completa um ano de promessas vazias e gestão questionável

Completando seu primeiro ano de operação nesta sexta-feira (23/05), a plataforma pública de streaming Maricá Filmes prometeu muito e não entregou quase nada. O Cine Henfil foi palco, há um ano, do lançamento com pompa e circunstância. Inicialmente, uma proposta ousada para o projeto petista: democratizar o acesso à cultura e valorizar o audiovisual nacional. Doze meses depois, porém, o cenário é desanimador.

Desenvolvida pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), a plataforma apresenta hoje um catálogo pouco atrativo e limitado com apenas 110 obras, especialmente se comparado a outros streamings como Netflix, Prime Video, HBO e Telecine. Entre os títulos oferecidos estão Zorro e filmes de Charles Chaplin – produções importantes e históricas, sim, mas amplamente disponíveis na internet, muitas vezes até no YouTube. Soa como descaso com o dinheiro público oferecer esse tipo de conteúdo como diferencial.

A prometida valorização de produções locais também não avançou como se esperava. Inaugurada em abril de 2023, a Incubadora de Cultura, que atuaria nesse sentido, aparece na plataforma com apenas quatro curtas-metragens, que, juntos, somam míseros 74 minutos de exibição. 

Nem o badalado "Malês", dirigido por Antônio Pitanga, que teve cenas gravadas em Maricá, entrou no catálogo da plataforma. 

A falta de cuidado com a estética apresentada também salta aos olhos. Muitos cartazes têm recortes mal feitos e há casos em que nem sequer o nome do filme aparece, além de erros de português crassos espalhados pela plataforma. 

Sendo uma plataforma gratuita, esperava-se um conteúdo mais robusto voltado às crianças. Mas, na seção infantil, apenas dois títulos – mesma quantidade dedicada às categorias de ficção científica e ação.

Uma moradora, que preferiu não se identificar por ser servidora da Prefeitura, disse: "Não gostei desse aplicativo, uns filmes chatos. Instalei e desinstalei dois dias depois. Eles dizem que é de graça e querem que a gente aceite qualquer porcaria".

Essas questões merecem atenção da Prefeitura de Maricá, principalmente porque só o contrato de desenvolvimento da plataforma de streaming foi no valor de R$ 2.840.400,00 (dois milhões, oitocentos e quarenta mil e quatrocentos reais). No Portal da Transparência, os empenhos disponíveis até o momento somam R$ 1.400.000,00 (um milhão e quatrocentos mil reais), destinados à Tambellini Filmes, responsável por esse desenvolvimento na gestão de Celso Pansera.

Gestão ineficiente e falta de transparência

Apesar de, pelo menos até novembro de 2024, contar com ao menos sete bolsistas – que formam o Conselho Curador –, a plataforma apresenta uma atualização de conteúdo lenta e ineficiente. Para se ter uma ideia, na época do lançamento, eram 65 obras e, um ano depois, nem o dobro. Entre os bolsistas estão Anselmo Carneiro de Almeida Vasconcellos, David Tygel, Artur Bernardo da Rocha Batista, Adolfo Lachtermacher, Maria Geralda de Miranda e Sílvio Tendler.

Além da curadoria, outro abandono é nas redes sociais do projeto. Quando procuramos o perfil da Maricá Filmes no Instagram e no Facebook (@maricafilmes), a surpresa: a plataforma ainda não entrou em 2025, pois sua última postagem foi em 31 de dezembro de 2024. Esse fato é, no mínimo, curioso para um streaming recém-lançado, que deveria estar promovendo seus conteúdos e se conectando com o público.

A gestão da Maricá Filmes agora é feita pelo Instituto Brasil Social (IBS), a mesma organização social que administra a Incubadora de Inovação Social em Cultura, ligada ao ICTIM. 

Coordenação e viagens suspeitas

Segundo reportagens da própria Prefeitura, a roteirista Ana Rosa Tendler é a coordenadora do projeto. A própria esteve no lançamento da plataforma de streaming, no Cine Henfil, há um ano. Já no início de abril deste ano, ela também representou o projeto em um festival de cinema de Cartagena das Índias, na Colômbia, em uma "missão oficial" que deu o que falar.

Com direito a passeio de barco pelo mar do Caribe, experiência de alta gastronomia e consumo de bebidas alcoólicas, a comitiva de 12 servidores municipais não se furtou em exibir a curtição com o dinheiro público. Na cidade colombiana estavam também o presidente do ICTIM, Cláudio de Souza Gimenez, o secretário de Cultura, Sady Bianchin, e a gerente da Incubadora de Cultura, Mariana Maia Figueiredo. 

As imagens compartilhadas nas redes sociais rodaram os grupos de Whatsapp da cidade. Em tom crítico, alguns batizaram como "farra de Cartagena", em alusão à conhecida "farra dos guardanapos" do ex-governador Sérgio Cabral. Funcionários da Incubadora também ficaram indignados com tamanha exposição, expuseram os atrasos frequentes no pagamento de salários e avaliaram mal a atual gestão da Incubadora.

Como diz o ditado "uma imagem vale mais que mil palavras", fiquem com as fotos de Cartagena mais uma vez:

https://www.ultimahoraonline.com.br/noticia/alta-gastronomia-bons-drinks-e-mar-caribenho-confira-missao-oficial-da-comitiva-maricaense-que-causa-inveja-em-quem-participou-da-famosa-farra-dos-guardanapos

Por Jornal da República em 23/05/2025
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