Dia dos Mortos se torna realidade cruel nas favelas cariocas

ANOTAÇÕES DO DIA DOS MORTOS SOBRE A CHACINA NAS COMUNIDADES DA VILA DA PENHA E DO COMPLEXO DO ALEMÃO

Dia dos Mortos se torna realidade cruel nas favelas cariocas

Eduardo Banks

Escritor e Jornalista MTb 31.111/RJ

 

            Assisti, mais uma vez, entre perplexo e impotente, ao massacre do Povo Negro, agora nas comunidades da Vila da Penha e do Alemão. 121 mortes confirmadas, até agora, enquanto o Governador Cláudio Castro, o “Carniceiro das Laranjeiras” comemora de forma mais desbragada do que o Bolsonaro quando este disse que “não sou coveiro” diante dos números de mortos da pandemia. Bolsonaro se mostrou indiferente ao sofrimento humano, mas Cláudio, o Carniceiro, vem sendo um promotor ativo da barbárie e um acobertador das execuções sumárias, posto que seu governo vem embaraçando o trabalho da Defensoria Pública e das instituições de defesa dos Direitos Humanos, até mesmo para terem acesso às perícias que comprovariam que a maior parte dos mortos recebeu tiros à queima-roupa na cabeça, estando na posição deitada ou sentada, quando já tinham se entregue aos agentes policiais, e alguns, até degolados, decerto que para “economizar balas”. Disseram que o Instituto Médico-Legal não é “parque de diversões”, com o que eu concordo, mas em parte: o IML é sim, um circo de horrores, que desde a ditadura militar encobre execuções e torturas, quando praticadas pelas Polícias, e não vem sendo diferente após a Redemocratização.

            Precisamos entender a engrenagem do narco-tráfico, para saber que a “Operação Contenção” foi um “sucesso” apenas para os verdadeiros “donos do tráfico”, que renovaram a sua mão-de-obra barata sem afetar suas “vendas”. As pessoas que desperdiçam suas vidas nas bocas-de-fumo não são as responsáveis pela estrutura do crime organizado, mas meros peões de um jogo maior, cujas cartas são dadas nos altos círculos do Poder, pelas mãos de políticos e magistrados, com lideranças religiosas dando guarida para a “lavagem do dinheiro” do crime por intermédio de suas organizações. Para esses “tubarões”, os “frentes”, “gerentes”, “seguranças”, “vapores” e “olheiros” valem menos do que os trabalhadores uberizados, motoristas de aplicativos e entregadores de refeições, sendo peças totalmente descartáveis, e que, além disso, precisam ser rapidamente descartadas para permitir a renovação contínua do mecanismo do tráfico de drogas.

            O tráfico é um sistema absolutamente sujo, que visa o lucro daqueles que estão no “topo da pirâmide”, enquanto os que vendem a droga ao consumidor final, não têm direito à vida, aliás, têm o “dever” de morrer, porque se durarem muito, podem se tornar ricos e poderosos, e representar assim um perigo para os “donos do jogo”. Não estou falando das “cúpulas” das organizações criminosas, que se encontram em presídios, porque esses também são “peões”, usados como “fachada” para a verdadeira cúpula, a qual nunca vai presa, e seus nomes mantêm a reputação imaculada na sociedade, passando como autoridades respeitáveis.

            O tráfico, entendendo aqui as verdadeiras lideranças, formadas por pessoas muito ricas e poderosas que não moram nas favelas ou comunidades, mas nos bairros mais nobres das grandes cidades, não se importa com a vida dos seus trabalhadores, e quer mesmo que eles morram logo, para serem substituídos por outros jovens sem perspectiva de um futuro, que serão os próximos a morrer, sempre que o Governo lançar mais uma operação enxuga-gelo, como a de que ora estamos tratando.

            Vez por outra, algum magistrado é acusado por seus pares de ter ligações com o tráfico, por proferir sentenças absolutórias ou conceder ordens de Habeas Corpus para acusados de integrar o narco-tráfico. Não acredito que esses juízes garantistas sejam culpados, porque um magistrado que fosse comprometido com o crime organizado jamais arriscaria a sua posição para indulgenciar a uma pessoa descartável. Acredito, sim, que os juízes que têm a mão e o martelo mais duros e pesados contra os réus são também os mais envolvidos com a engenharia do tráfico, pois é assim que eles garantem que o tráfico se perpetue, pela rápida reposição de suas peças, enquanto afastam suspeitas, da mesma forma como um homofóbico dissimula sua orientação sexual praticando atos violentos contra LGBT’s assumidos. A engrenagem do tráfico tem peças que se desgastam muito depressa, e precisa de manutenção constante para se manter eficiente.

            Termino dizendo que devemos olhar para todos aqueles, na esfera política, policial e judicial, que comemoram o resultado funesto da “Operação Contenção”, porque esses é que são os suspeitos de serem os verdadeiros traficantes de drogas, que acabam de fazer, não uma “faxina” para a sociedade, como alardeiam, mas um plano de “demissões” para contratação de novos funcionários, capitalizando seus lucros. Esta, meus concidadãos, é a NARCO-DIREITA.

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Por Jornal da República em 02/11/2025
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