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A política de “enxugar gelo” parece estar chegando ao fim no Estado do Rio de Janeiro. Durante anos, assistimos a operações policiais ineficazes, que custaram vidas de inocentes e pouco alteraram o poder real do crime organizado. Agora, com apoio do governo estadual, de setores das forças de segurança e da Assembleia Legislativa, surge algo ainda mais grave: a política do “enxuga-sangue”.
Na última semana, foi aprovada a chamada “Lei do Faroeste”, celebrada por alguns como resposta ao medo da população e amplificada pela mídia. Mas, em vez de soluções estruturais, o que se vê é a tentativa de transformar em lei aquilo que historicamente já mergulhou o Rio em tragédias.
O termo “faroeste” não é novidade. Desde os anos 1980, ele descreve tiroteios em favelas, execuções sumárias e operações policiais que deixam rastros de mortes de civis. A memória coletiva não esquece episódios como a Chacina da Candelária e a de Vigário Geral (1993), a Chacina da Baixada (2005) ou o sequestro do ônibus 174 (2000), transmitido ao vivo para todo o país. Cada um deles mostrou que, no Rio, a fronteira entre justiça e barbárie já foi muitas vezes rompida.
A diferença é que, agora, esse faroeste ameaça deixar de ser metáfora para se tornar política oficial de Estado. O que antes eram abusos e desvios de conduta pode passar a ter carimbo legal. Isso abre caminho para um cenário ainda mais perigoso: operações policiais usadas como instrumentos de vingança, perseguição ou extermínio.
O Rio de Janeiro, que já foi vanguarda cultural e inspiração para o Brasil e o mundo, agora corre o risco de ser lembrado como o Estado que legalizou o faroeste.
No fim, não será o crime que perderá força, mas a sociedade que perderá inocentes, policiais, direitos e democracia. O sangue derramado não será apenas o do inimigo, mas de inimigos políticos, desafetos e até promessas de paga. Por fim, entendo que se validada a referida lei, nossa política deixará de ser “enxuga-gelo” para “enxuga-sangue”
Jaime Fusco, advogado,Especialista em Segurança Pública.
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