Entre Likes e Votos: A Nova Lógica das Campanhas Eleitorais

Entre Likes e Votos: A Nova Lógica das Campanhas Eleitorais

 

As redes sociais deixaram de ser apenas vitrines de vidas pessoais para se tornarem arenas decisivas na disputa pelo poder político.

No Brasil, onde mais de 80% da população está conectada, plataformas como Instagram, Facebook, X (antigo Twitter) e WhatsApp moldam não apenas o debate público, mas também a percepção dos eleitores sobre candidatos, propostas e ideologias.

A ascensão das redes sociais transformou a comunicação política. Candidatos agora falam diretamente com seus eleitores, sem intermediários, usando vídeos curtos, memes e transmissões ao vivo para construir narrativas emocionais e personalizadas.

Essa proximidade, embora democratize o acesso à informação, também cria bolhas informacionais — ambientes em que o usuário consome apenas conteúdos que reforçam suas crenças.

O fenômeno das fake news é um dos maiores desafios da era digital. Notícias falsas se espalham até seis vezes mais rápido que as verdadeiras, impulsionadas por algoritmos que priorizam engajamento, não veracidade.

A manipulação da opinião pública por meio de bots, microtargeting e campanhas orquestradas pode distorcer a vontade popular e comprometer a integridade do processo democrático.

O ordenamento jurídico brasileiro, embora tenha avançado com resoluções como a 23.732/2024 do TSE, ainda enfrenta dificuldades para acompanhar a velocidade das transformações digitais.

A responsabilização das plataformas, a regulação da propaganda eleitoral online e a proteção de dados pessoais são temas centrais. O Marco Civil da Internet e a LGPD oferecem diretrizes, mas não resolvem os dilemas éticos e políticos da autorregulação algorítmica.

Estudos indicam que 45% dos brasileiros decidem seu voto com base em informações vistas nas redes sociais. Essa influência direta levanta questões sobre a autonomia do eleitor diante de conteúdos manipulados, muitas vezes emocionalmente carregados.

A formação da vontade política, antes mediada por instituições e imprensa, agora é moldada por likes, compartilhamentos e bolhas digitais.

Diante desse cenário, é urgente repensar o papel das redes sociais na democracia. A liberdade de expressão não pode ser confundida com liberdade para desinformar.

A transparência dos algoritmos, a educação midiática e a regulação responsável são caminhos para garantir que a tecnologia sirva à cidadania — e não ao caos informacional.

O eleitor do século XXI precisa ser mais do que um consumidor de conteúdo: deve ser um agente crítico, consciente de que sua decisão é influenciada por forças invisíveis.

Questionar, checar, refletir e exigir responsabilidade das plataformas e dos candidatos é essencial para preservar a legitimidade das eleições e fortalecer a democracia.

Por Jornal da República em 22/07/2025
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