Mapa da guerra: confira os bairros onde a PM mais mata e também morre no Rio

Levantamento revela os locais com maior letalidade e número de agentes mortos na capital

Mapa da guerra: confira os bairros onde a PM mais mata e também morre no Rio

O ciclo da violência no Rio de Janeiro se repete com precisão estatística. Um levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que os bairros mais letais para os policiais militares se encontram com as regiões onde há índices altos de mortes por intervenção de agentes.

Entre janeiro de 2023 e dezembro de 2024, 715 pessoas foram mortas por policiais, entre elas suspeitos e inocentes. Nesse mesmo período, 21 PMs foram mortos durante o trabalho e 55 quando estavam de folga.

Bairros na Zona Norte, como Méier e Irajá, despontam tanto na letalidade causada por intervenções policiais quanto na morte de agentes em serviço.

Onde a polícia mais mata

Jacarepaguá, na Zona Oeste, lidera com 73 mortes por intervenção de agentes do Estado em 2024. Apesar da leve queda em relação ao ano anterior (82).

Confira a lista:

1° Jacarepaguá – 73 mortes em 2024 (8 a menos)
2° Irajá – 56 mortes em 2024 (10 a mais)
3º Rocha Miranda – 46 mortes em 2024 (7 a mais)
4º Bangu – 36 mortes em 2024 (28 a menos)
5º Méier – 33 mortes em 2024 (6 a menos)

Onde a polícia mais morre

Em comparativo, os dados mostram que o número de policiais militares mortos em serviço é inferior. No entanto, o Méier e o Irajá, dois bairros da Zona Norte, aparecem no ranking. Confira:

1° Méier – dois policiais mortos.
2° Maré – dois policiais mortos.
3° Leblon – dois policiais mortos.
4º Santa Cruz – um policial morto.
5º Irajá – um policial morto.

Dados disponibilizados pela própria Polícia Militar revelam um número ainda maior. Segundo a corporação, 21 agentes foram mortos em serviço entre 2023 e 2024. O número aumenta entre os que estavam de folga: 55 policiais assassinados no mesmo período.

Em 2025, até o momento, já são 4 mortes em serviço e 12 fora do horário de trabalho. Procurada por Agenda do Poder, a PM disse que não vai detalhar os locais onde os homicídios ocorreram.

A guerra por território

Jacarepaguá, bairro que lidera o número de mortes por intervenção policial, é também um dos principais palcos de uma guerra territorial entre milicianos e traficantes do Comando Vermelho. O conflito se intensificou no início de 2023, quando um ex-miliciano da quadrilha de Rio das Pedras rompeu com o grupo e se aliou ao tráfico.

A disputa teve início na Gardênia Azul e logo se espalhou por bairros vizinhos como Praça Seca, Taquara, Freguesia, Tanque e Anil — áreas que, até então, estavam sob domínio miliciano ou não tinham presença consolidada de facções. A partir desse ponto, a região mergulhou em uma sequência de tiroteios, execuções e grandes operações policiais.

Outro destaque são os dois bairros da Zona Norte, Méier e Irajá, que aparecem nas duas listas. As regiões ficam próximas a comunidades dominadas pelo tráfico, como o Complexo do Lins, ponto estratégico do Comando Vermelho, Complexo do Chapadão, a comunidade do Para-Pedro e o Complexo da Pedreira, áreas que, constantemente, também passam por megaoperações e troca de tiros.

Inocentes nas estatísticas

O Rio de Janeiro vive uma onda de confrontos violentos entre policiais e criminosos em espaços públicos, que têm resultado na morte de civis inocentes. Somente em janeiro deste ano, 17 pessoas foram atingidas por balas perdidas na região metropolitana, segundo dados do Instituto Fogo Cruzado.

Uma das vítimas foi Daniel Vitório Nascimento Moreira, funcionário terceirizado da concessionária Águas do Rio. No dia 11 de janeiro, ele passava por uma rua no Complexo da Pedreira, na Zona Norte, quando foi atingido por um disparo durante um confronto entre policiais militares e traficantes. Daniel não resistiu aos ferimentos.

Desde então, outras vítimas se somaram à estatística. A mais recente foi Herus Guimarães, de 24 anos. No último dia 7, ele participava de uma festa junina no Morro Santo Amaro, no Catete, Zona Sul do Rio, quando o Batalhão de Operações Especiais (Bope) entrou na comunidade e iniciou uma troca de tiros com criminosos. Ao menos cinco pessoas foram baleadas — três delas, inocentes.

Os dados incluem também os próprios agentes de segurança. Na última quarta-feira (11), o cabo Uillian de Oliveira, de 44 anos, foi executado na porta de casa, em Magé, na Baixada Fluminense. Testemunhas afirmam que ele foi seguido por criminosos. A Polícia Civil apura se o crime foi uma retaliação à atuação do policial.

No início do mês, o terceiro sargento Cláudio Luiz, lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Morro do São João, foi atingido na cabeça durante um confronto com traficantes do Comando Vermelho na comunidade da Zona Norte. Ele está internado no Hospital Central da Polícia Militar, no Centro do Rio, e segue em recuperação.

Via Agenda do Poder

Por Jornal da República em 16/06/2025
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