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Do outro lado da tela, a gente clica: “confirmar pedido”. Um lanche, um remédio, uma encomenda qualquer. Em minutos, um rosto suado, uma mochila vermelha, uma moto costurando a cidade. A gente come, se alivia, agradece no app e segue a vida. Mas a vida de quem entregou, continua. No asfalto quente, no trânsito agressivo, no cronômetro impiedoso da plataforma.
A nova era digital colocou a mobilidade nas palmas das mãos. E com ela, vieram novas relações de trabalho, novas formas de consumo e, também, novos riscos — quase sempre concentrados nos mesmos corpos: jovens, negros, periféricos, invisíveis.
Em São Paulo, esses trabalhadores viraram mais uma vez alvo de vaivéns judiciais. Libera, proíbe, recorre, derruba. Em nome da segurança, corta-se o serviço. Mas segurança de quem? Para quem? Proibir virou protocolo — quando deveria ser último recurso.
Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes entendeu que não se governa uma cidade complexa com soluções simplistas. Ele não proibiu. Propôs. Criou motofaixas, planejou redução de velocidade, cobrou responsabilidade das plataformas e falou de frente com quem mais corre risco.
Nas entrelinhas, ele disse o que parecia óbvio, mas que ninguém tinha coragem de assumir em voz alta:
“Problemas criados pela tecnologia se enfrentam com mais tecnologia. Não vamos brigar contra o avanço. Vamos exigir compromisso com a vida.”
E isso não é só sobre gestão. É sobre decência.
Os acidentes não são apenas estatísticas. São danos reais: braços que não entregam mais, sonhos interrompidos, famílias sem chão. Cada tombamento no trânsito é também um tombo ético em quem finge não ver. E ver não basta. É preciso agir.
O que Eduardo Paes está fazendo no Rio é dar o exemplo de que o poder público tem lado — e, neste caso, é o lado de quem anda na pista, e não só nos gabinetes. Ele está fazendo a parte que lhe cabe: reconhecer, proteger, estruturar.
Mas esse compromisso não é só do prefeito. É de todos os atores da nova era digital. Das plataformas que lucram com a pressa. Dos consumidores que exigem em minutos o que poderia esperar uma hora. Dos legisladores que dormem sobre temas urgentes. E da própria sociedade, que não pode seguir indiferente ao custo humano da comodidade.
Para haver harmonia — como preza o Código de Defesa do Consumidor —, é necessário que as empresas também façam sua parte. poderia haver: Parcerias com Apps: Uber e iFood aderiram a treinamentos obrigatórios no Rio, com 85% dos entregadores participantes relatando melhoria em práticas de segurança (dados da Prefeitura, 2023).
Se a economia mudou, nossas responsabilidades também têm que mudar. E enquanto uns se escondem atrás de decretos, outros — como Paes — escolhem mostrar a cara, escutar o barulho das ruas e entregar políticas que salvam vidas.
Jorge Tardin é professor de direito e advogado - jorge@tardin.com.br - https://www.linkedin.com/in/jtardin/
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