Nova Lei Fiscal de Trump ameaça remessas de Brasileiros nos EUA para o Brasil

Nova Lei Fiscal de Trump ameaça remessas de Brasileiros nos EUA para o Brasil

Uma proposta de lei apresentada pelo ex-presidente Donald Trump nos Estados Unidos, que já foi aprovada na Câmara dos Deputados e aguarda votação no Senado, poderá ter um impacto direto sobre milhares de brasileiros que vivem e trabalham em solo americano. A iniciativa prevê a criação de um imposto de 3,5% sobre todas as remessas de dinheiro enviadas por estrangeiros aos seus países de origem — independentemente da situação migratória do remetente.

Batizada por Trump como “One, Big, Beautiful Bill” (“Um Projeto Único, Grande e Belo”), a medida é vista como parte de uma ampla reforma fiscal e tributária com forte apelo político. No entanto, o projeto deve provocar sérias consequências sociais e econômicas em países latino-americanos, inclusive no Brasil, que já enfrenta dificuldades com a repressão a imigrantes e as deportações crescentes.

De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, apenas em 2024, imigrantes que vivem nos Estados Unidos enviaram cerca de US$ 161 bilhões para seus países na América Latina — sendo US$ 64 bilhões destinados ao México e US$ 21 bilhões à Guatemala.

Para o Brasil, o impacto pode parecer menor do ponto de vista macroeconômico, já que as remessas representam apenas 0,2% do PIB nacional. No entanto, cidades como Governador Valadares (MG), conhecida por sua grande comunidade de emigrantes, podem sentir fortemente o efeito da nova taxa. Dados do Banco Central indicam que, em 2023, brasileiros residentes nos EUA enviaram aproximadamente US$ 2 bilhões ao país — a metade do total enviado por brasileiros ao redor do mundo. Só em Governador Valadares, a prefeitura estima que a economia local movimenta cerca de US$ 700 milhões graças às remessas vindas do exterior.

A nova taxa chega em um momento em que muitos imigrantes brasileiros enfrentam incertezas e dificuldades para manter suas atividades. Cátia, que vive e trabalha em Miami, relatou à reportagem que deixa de sair para trabalhar em dias de operações de imigração. “Quando tem batida da polícia, eu fico em casa. E sem trabalhar, não tem como mandar dinheiro para o Brasil”, disse.

A insegurança jurídica e a vigilância em torno de locais frequentados por estrangeiros, como casas de câmbio, também têm contribuído para a redução das remessas. “Com os boatos de que a polícia de imigração está agindo perto das lojas de câmbio, muita gente não está mais indo trocar o dinheiro”, contou Carlos, brasileiro que vive em Nova York com a esposa. O casal, que ajudava na reforma de uma casa de uma parente em Sorocaba (SP), decidiu suspender os gastos temporariamente. “É hora de economizar e esperar para ver no que isso vai dar.”

Para países da América Central, onde as remessas representam uma parcela significativa do PIB — chegando a 24% em El Salvador e valores similares em Honduras e Nicarágua —, a cobrança da nova taxa pode agravar ainda mais os desafios econômicos da população.

O governo norte-americano estabeleceu o dia 4 de julho como prazo para que os senadores cheguem a um consenso e levem o projeto a votação. Até o momento, o impasse não está centrado na questão migratória, mas especialistas alertam para os efeitos colaterais da medida sobre milhões de famílias que dependem dessas transferências para sobreviver.

 

Fonte: Uol

Por Jornal da República em 24/06/2025
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