TCE aponta 77 obras paradas no RJ e revela abandono do Hospital da Mulher em São Gonçalo

Obra em São Gonçalo está parada há anos — Foto: Reprodução/TV Globo

TCE aponta 77 obras paradas no RJ e revela abandono do Hospital da Mulher em São Gonçalo

Com construção iniciada há mais de uma década, hospital segue inacabado, cercado por mato

Um levantamento do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) revela que pelo menos 77 obras públicas estão paralisadas em todo o estado. Entre os casos mais críticos está o do Hospital da Mulher, em São Gonçalo, cuja construção já consumiu mais de R$ 10 milhões dos cofres públicos e está abandonada há 12 anos. O imóvel segue inacabado, coberto por mato e sem qualquer atendimento à população.

Segundo reportagem do RJ2, da TV Globo, o projeto deveria estar funcionando desde 2015, mas permanece como um “esqueleto” no bairro do Colubandê. “Tristeza, né? Poderia ser um lugar bem aproveitado pra nós mulheres, que precisamos muito”, lamenta Vanessa Costa, promotora de vendas. A cidade, segunda mais populosa do estado, conta com apenas uma maternidade pública, sem estrutura para casos de alto risco. “Diante de tanto discurso ‘pela vida’, quem quer ter seus filhos não consegue de forma adequada”, critica a enfermeira Fátima dos Santos.

Apesar de inativa, a obra ainda gera despesas. Em 2022, o governo estadual pagou R$ 488 mil em multas e juros à empreiteira, além de R$ 357 mil por um serviço de demolição não comprovado. Ao todo, foram R$ 848 mil gastos apenas naquele ano, conforme planilha da Secretaria Estadual de Fazenda.

A deputada estadual Renata Souza (PSOL) pediu uma auditoria ao TCE e acionou o Ministério Público. “As mulheres do Colubandê estão completamente desassistidas naquilo que seria o óbvio: um hospital onde 53% da população são mulheres”, afirmou a parlamentar.

Outro exemplo do descaso é o Hospital Estadual de Oncologia de Nova Friburgo, prometido como referência no tratamento de câncer na Região Serrana. A obra começou em 2015 com orçamento inicial de R$ 45 milhões, em parceria com o governo federal, mas já teve dois aditivos contratuais — o último, em 2022, praticamente dobrou o valor para R$ 95 milhões. Ainda assim, em 2025, o prédio continua inacabado.

Para moradores como a aposentada Mariléa Spitz, o atraso impõe sofrimento. Com familiares que enfrentaram câncer, ela relata as dificuldades de deslocamento até o Rio de Janeiro para o tratamento. “Sair, ir pro Rio, aguardar o carro, passa um dia inteiro depois de uma quimio… muito difícil. A gente vive uma situação muito delicada”, desabafa.

A Secretaria Estadual de Infraestrutura afirma que todas as obras da saúde foram retomadas ou estão em andamento e que a gestão do governador Cláudio Castro reativou projetos paralisados há mais de uma década. Sobre o Hospital de Nova Friburgo, diz que o cronograma foi revisto para atender normas sanitárias e que a entrega está prevista até o fim de 2025.

Já sobre o Hospital da Mulher, o governo estadual afirma que a unidade está em fase de “projeto” e não informou qualquer prazo para início ou conclusão da obra. Questionado, o Ministério da Saúde não explicou o motivo do abandono do convênio com o governo do Rio para a construção da unidade oncológica.

O TCE informou que o painel com 77 obras paradas só inclui projetos da Emop (Empresa de Obras Públicas do Estado) nas áreas de segurança e educação, o que indica que o número real de empreendimentos abandonados pode ser ainda maior.

Fonte Agenda do Poder

Por Jornal da República em 30/04/2025
Aguarde..