Thatiana Pereira, autora de bestseller sobre TEA, explica crescimento de diagnósticos e importância do cuidado multidisciplinar

Autismo: especialista desvenda mitos e revela avanços no tratamento do transtorno

Equipe multidisciplinar: a chave para transformar a vida de pessoas autistas

O Transtorno do Espectro Autista tem se tornado cada vez mais presente nas discussões familiares e sociais brasileiras, gerando dúvidas sobre suas causas, tratamentos e perspectivas futuras. Durante cerimônia de homenagem na Câmara de Vereadores, a especialista em educação Thatiana Pereira, autora do bestseller "Além do Autismo", esclareceu questões fundamentais sobre este transtorno do neurodesenvolvimento que afeta milhões de pessoas no país. Sua obra, que já alcançou sucesso nacional e internacional, sendo lançada também em Portugal, traz luz e clareza sobre um tema que ainda gera muitas incompreensões na sociedade.

A percepção de que o autismo está "crescendo" na sociedade brasileira tem explicação científica clara, segundo a especialista. O aumento aparente de casos não representa necessariamente uma epidemia, mas sim uma melhoria significativa nos processos de diagnóstico e na busca ativa por laudos médicos por parte das famílias. "Hoje nós estamos vendo mais casos porque existe também a procura desses pais por laudos", explica Thatiana, destacando que essa busca permite oferecer mais qualidade de vida para as crianças, já que quanto antes se descobre o laudo, maiores são os avanços possíveis no desenvolvimento humano.

O esclarecimento sobre a natureza do autismo representa um ponto fundamental para desmistificar preconceitos sociais. "O autismo não é uma doença. O autismo é um transtorno", enfatiza a especialista, explicando que por ser um transtorno do neurodesenvolvimento, ele não tem cura, mas sim cuidado, acompanhamento e evolução contínua. Essa distinção é crucial para que famílias e sociedade compreendam que pessoas autistas precisam aprender a lidar com esse transtorno ao longo de toda a vida, não esperando uma "solução definitiva" que não existe.

Níveis de suporte: compreendendo as necessidades individuais

A classificação atual do autismo em três níveis representa um avanço significativo na compreensão e tratamento do transtorno. Thatiana explica que a avaliação preconiza o nível um (leve), nível dois (moderado) e nível três (severo), sendo importante compreender que se trata de níveis de suporte necessário, não de gravidade. "É um nível de suporte, não é um nível de gravidade", esclarece, detalhando que o nível um requer suporte de poucos profissionais, enquanto os níveis dois e três demandam equipes multidisciplinares progressivamente maiores.

O nível três, considerado severo, apresenta os maiores desafios para inclusão social. Pessoas neste nível têm dificuldades significativas de comunicação com o mundo exterior, resultando frequentemente em isolamento social. Essas limitações exigem acompanhamento intensivo de uma equipe multidisciplinar ampliada, evidenciando a importância de políticas públicas que garantam acesso a tratamentos especializados. A compreensão desses níveis permite que famílias e profissionais desenvolvam estratégias de cuidado mais adequadas às necessidades específicas de cada pessoa.

A abordagem multidisciplinar emerge como elemento fundamental para o desenvolvimento pleno de pessoas autistas. "Uma criança autista, um adolescente autista, um adulto autista, ele precisa de uma equipe multidisciplinar", destaca a especialista, enfatizando que são muitos profissionais envolvidos nesse processo. A estimulação precoce, quando iniciada logo após o diagnóstico, proporciona ganhos significativos no desenvolvimento, demonstrando a importância da detecção precoce e do início imediato do acompanhamento especializado.

Fatores genéticos e ambientais: desvendando as causas

A questão das causas do autismo continua sendo objeto de estudos científicos, com a genética emergindo como o principal fator identificado. "Um dos maiores indicadores do autismo é a questão genética", explica Thatiana, esclarecendo que embora fatores ambientais possam interferir, a criança, adolescente ou adulto já nasce com o TEA, que é um transtorno do neurodesenvolvimento. Essa predisposição genética significa que o transtorno se apresenta ao longo da vida, independentemente de fatores externos específicos.

A observação sobre maior incidência de autismo entre filhos de militares levanta questões interessantes sobre possíveis influências ambientais. Embora a especialista confirme que fatores ambientais podem interferir no desenvolvimento do transtorno, a base genética permanece como elemento predominante. O estresse ocupacional e as condições específicas da carreira militar podem representar fatores ambientais que, combinados com predisposição genética, influenciam a manifestação do transtorno, mas são necessários mais estudos para estabelecer correlações definitivas.

A descoberta de casos tardios de autismo tem se tornado cada vez mais comum, desafiando a percepção tradicional de que o transtorno é identificado apenas na infância. Thatiana relata o caso de um paciente de 55 anos que descobriu ser autista há apenas um ano e já apresenta avanços significativos com terapia e acompanhamento profissional. "Ele já consegue fazer coisas que ele não fazia até então, ele já consegue cumprir com compromissos que ele tinha uma certa limitação", exemplifica, demonstrando que nunca é tarde para iniciar o tratamento adequado.

Avanços legislativos e desafios sociais

O cenário legislativo brasileiro tem apresentado avanços significativos na proteção dos direitos das pessoas autistas, com crescente engajamento político na causa. "Nós estamos vendo aí no dia a dia muitos vereadores, muitos políticos engajados em defesa da causa autista, que é uma causa necessária, urgente, primordial", observa a especialista. Essa mobilização política tem resultado em projetos de lei que visam garantir direitos fundamentais, incluindo vagas de emprego para adolescentes autistas e melhorias na inclusão social.

Contudo, persistem desafios significativos na implementação efetiva desses direitos. O Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS) representa um exemplo claro dessas limitações, sendo liberado apenas para famílias em situação de miserabilidade. "Isso é um agravante, porque a pessoa sendo miserável, ela não vai conseguir arcar com despesas de terapia, ela vai priorizar o quê? alimentação", critica Thatiana, destacando a contradição de um sistema que exige pobreza extrema para conceder benefícios que deveriam facilitar o acesso a tratamentos especializados.

A inclusão social de pessoas autistas requer mudanças estruturais que vão além da legislação, abrangendo espaços educacionais e sociais de forma geral. A especialista enfatiza a necessidade de projetos de lei que beneficiem efetivamente a vida dos autistas dentro da sociedade, reconhecendo que a verdadeira inclusão exige transformações culturais e estruturais profundas. Essas mudanças devem contemplar desde adaptações arquitetônicas até formação de profissionais capacitados para atender adequadamente essa população.

Perspectivas futuras e transformação social

O trabalho de conscientização desenvolvido por especialistas como Thatiana Pereira representa um marco na transformação da percepção social sobre o autismo. Seu livro "Além do Autismo", ao se tornar um bestseller nacional e internacional, demonstra a sede de conhecimento da sociedade sobre este tema. A obra não apenas informa, mas transforma vidas ao oferecer compreensão clara sobre um transtorno que afeta milhões de famílias brasileiras.

A formação de uma rede de apoio qualificada emerge como elemento crucial para o futuro das pessoas autistas no Brasil. A combinação entre escola, família e profissionais especializados cria um ambiente propício para que crianças, adolescentes e adultos autistas se desenvolvam em plenitude. Essa abordagem integrada reconhece que o desenvolvimento de pessoas autistas é um processo contínuo que requer suporte consistente e especializado ao longo de toda a vida.

O futuro do cuidado com pessoas autistas no Brasil depende fundamentalmente da continuidade dos avanços legislativos, da formação de profissionais qualificados e da transformação cultural da sociedade. A experiência de Thatiana Pereira, reconhecida através da homenagem recebida na Câmara de Vereadores, exemplifica como o conhecimento especializado pode ser transformado em ação social efetiva. Seu trabalho demonstra que é possível construir uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para pessoas autistas, desde que haja comprometimento com a ciência, a educação e a humanização do cuidado.

A jornada rumo a uma sociedade verdadeiramente inclusiva para pessoas autistas exige esforços coordenados entre especialistas, famílias, poder público e sociedade civil. O trabalho pioneiro de profissionais como Thatiana Pereira ilumina esse caminho, oferecendo conhecimento, esperança e ferramentas práticas para transformar desafios em oportunidades de crescimento e desenvolvimento humano.


Repórter Ralph Lichotti - Advogado e Jornalista, Editor do Ultima Hora Online e Jornal da República, Foi Sócio Diretor do Jornal O Fluminense e acionista majoritário do Tribuna da Imprensa, Secretário Geral da Associação Nacional, Internacional de Imprensa - ANI, Ex- Secretário Municipal de Receita de Itaperuna-RJ, Ex-Presidente da Comissão de Sindicância e Conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa - ABI - MTb 31.335/RJ

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Por Jornal da República em 22/10/2025
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