Um dia a casa (ou o prédio) cai: ICTIM ganha mais um inquérito do MP-RJ

Um dia a casa (ou o prédio) cai: ICTIM ganha mais um inquérito do MP-RJ

A novela do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) acaba de ganhar mais um capítulo — e, pelo visto, o roteiro está longe de um final feliz. Desta vez, o enredo envolve um prédio no Centro da cidade, que deveria ser um promissor Núcleo de Biotecnologia, mas acabou virando um monumento ao desperdício.

Tudo começou com uma denúncia do vereador Ricardinho Netuno (PL), que levou o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) a abrir um inquérito para investigar o aluguel do imóvel pela autarquia. A matéria voltou a ganhar destaque no site Tempo Real:

https://temporealrj.com/mp-investiga-aluguel-de-imovel-pela-prefeitura-de-marica-local-esta-abandonado/

Segundo a denúncia apresentada pelo líder da oposição, o prédio em questão foi alugado por 36 meses, ao custo de R$ 1.071.000 — ou seja, R$ 29.750 mensais — para sediar um núcleo que jamais saiu do papel. Desde dezembro de 2022, quando o então presidente do ICTIM, Celso Pansera, assinou o contrato, o único movimento no local foi o depósito mensal do aluguel.

Já em maio de 2024, o vereador Netuno esteve pessoalmente no prédio e não encontrou sinal de vida — nem científica, nem tecnológica, muito menos de inovação. À época, o aluguel já havia devorado R$ 400 mil dos cofres públicos.

Eis o desabafo do parlamentar na denúncia:

“Estive pessoalmente no prédio que está sendo alugado pelo ICTIM no Centro e o que vi foi revoltante: o espaço está fechado, parado, sem qualquer atividade. Como vereador eleito para fiscalizar e denunciar as irregularidades na nossa cidade, não posso fechar os olhos diante desse tipo de situação”, afirmou Netuno.

Somente após meses de pressão da imprensa — com destaque para o Última Hora Online (https://www.ultimahoraonline.com.br/noticia/r-1-milhao-jogados-fora-prefeitura-de-marica-aluga-predio-abandonado) — é que o atual presidente do ICTIM, Cláudio de Souza Gimenez, decidiu cancelar o contrato. Mas aí já era tarde: 22 meses pagos por um prédio trancado, somando mais de R$ 600 mil escorrendo pelo ralo.

*ICTIM tem até 10 de junho para explicar o inexplicável*

O caso está agora nas mãos da Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva de Maricá, que instaurou inquérito civil e aguarda, com a paciência de um monge, as respostas da Procuradoria Geral do Município (PGM) e do ICTIM. O prazo final: 10 de junho.

Em nota ao site Tempo Real, a Prefeitura de Maricá, por meio do ICTIM, disse que já enviou respostas anteriores ao MP e está “providenciando documentação suplementar” — talvez um laudo sobre como se gasta mais de meio milhão de reais para manter um prédio em silêncio.

A Prefeitura também fez questão de frisar que todas as “cautelas legais” foram tomadas para assinar o contrato, em conformidade com o Código Civil, a Lei nº 8.666/93 e o Decreto Municipal nº 158/2018. Pelo visto, a legalidade do contrato não impediu a inutilidade do imóvel.

*Timing não podia ser pior para Pansera*

Nunca a frase "tudo acontece no tempo certo" fez tanto sentido. Na última sexta-feira (30/05), Celso Pansera despediu-se da presidência da Finep e, conforme já anunciado, assumirá a Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar). Mas o que o retorno de Pansera não aguardava era acontecer justamente quando a sua "menina dos olhos" enfrenta o próprio apocalipse administrativo.

É no ICTIM onde estão lotados a ex-esposa e mãe do filho de Pansera, Marcia Souza, junto a seu cunhado Reinaldo Marins (companheiro de Solange Pansera), além de diversos aliados políticos. Muitos, diga-se de passagem, já identificados como funcionários fantasmas:

https://www.ultimahoraonline.com.br/noticia/cabide-em-marica-ex-ministro-celso-pansera-pode-trocar-finep-por-codemar-em-meio-a-denuncias-de-ter-criado-um-exercito-de-funcionarios-fantasmas-e-privilegios-no-ictim

Um servidor do ICTIM entrou em contato com o portal e resumiu o momento: "Tá um verdadeiro barata voa aqui. Estão tentando montar uma história pra explicar essa bagunça generalizada, mudar documentos dentro do processo, e não é só desse do prédio. É uma falta de comando, de liderança, ninguém assume nada, e o prefeito finge que não tá vendo, então a gente fica sendo obrigado a fazer o que mandam pra não perder o emprego".

Autor intelectual do aluguel do prédio-fantasma, ex-deputado e "fiel" escudeiro do prefeito Quaquá, Pansera é conhecido como “pau-mandado” na política — rótulo nada afetuoso, mas aparentemente suficiente para um novo cargo público.

Quer saber mais sobre o próximo presidente da Codemar? Leia:

https://www.ultimahoraonline.com.br/noticia/quaqua-troca-aloprado-por-pau-mandado-no-comando-da-codemar

*E a Codemar? O cerol já começou a cantar…*

O clima na Codemar já é de tensão. O Jornal Oficial de Maricá (JOM) 1738 anunciou mudanças que, além de surpreenderem, deixaram uma dúvida no ar: o que será que Hamilton Lacerda — o “aloprado” — fez para ser demitido sem aviso, honra ou piedade pelo governo petista?

Em Maricá, o futuro pode até ser incerto, mas o passado insiste em voltar — mesmo que acompanhado de inquéritos, prédios vazios e promessas soterradas por interesses obscuros.

Por Jornal da República em 01/06/2025
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