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* Por Jorge Tardin
O mundo está mudando diante dos nossos olhos. Antigos modelos desabam, velhas certezas se desfazem e novas forças emergem de lugares que, durante muito tempo, foram tratados como periferia. O século XXI não está sendo escrito nas velhas capitais imperiais, e sim em países que transformam dificuldade em criatividade e diversidade em potência. O Brasil está entre eles. E o Rio de Janeiro, mais uma vez, aparece como a vitrine dessa transformação.
Vivemos um momento decisivo. A crise climática deixou de ser um alerta distante e se tornou uma realidade brutal. Ondas de calor, enchentes, queimadas, escassez de água e mais de 100 milhões de deslocados climáticos mostram que o modelo econômico que guiou o mundo nas últimas décadas esgotou sua capacidade de entregar prosperidade real. A humanidade está diante de um impasse. E é justamente nesse impasse que o Brasil se torna essencial.
Na COP 30, realizada no coração da Amazônia, o Brasil tem a chance histórica de mostrar que desenvolvimento e proteção ambiental não apenas podem coexistir, mas precisam caminhar juntos. Essa reunião mundial não é apenas um evento ambiental. É o tribunal onde se julga o futuro do planeta. E é o momento ideal para mostrar que uma economia baseada na destruição é tão inviável quanto imoral.
O Fundo Tropical Forests Forever Facility, que busca mobilizar 125 bilhões de dólares para preservar florestas tropicais, é um exemplo concreto dessa nova fase. Ele mostra que não se trata mais de “pedir ajuda”, mas de redesenhar as engrenagens financeiras para que o capital flua na direção certa: a da regeneração e não da devastação. O capitalismo, hoje, está sendo julgado pela própria natureza. E o veredicto dependerá de nossa capacidade de reinventá-lo como força produtiva, distributiva e sustentável.
Ao mesmo tempo, o Brasil assume a presidência do BRICS, o bloco que hoje representa mais de 40% da economia mundial. Não é exagero dizer que o BRICS se tornou o símbolo do novo protagonismo do chamado Sul Global. Na prática, o BRICS representa uma alternativa concreta à ordem internacional que privilegiou poucos e marginalizou muitos. Um sistema que, durante décadas, ofereceu mais assimetrias do que justiça.
O Brasil entra nesse cenário como ponte, como articulador e como voz respeitada. E entra também com algo que vai além da economia e da diplomacia: entra com o Rio de Janeiro.
O Rio não é apenas um endereço geográfico. O Rio é um símbolo mundial. Um lugar onde a beleza convive com a dor, onde a desigualdade grita e a criatividade responde, onde a música nasce do improviso e onde o encontro é uma forma de resistência. O Rio concentra, em um único território, tudo o que o século XXI precisa compreender: a urgência climática, a força da juventude, a potência cultural, a disputa urbana, o valor da diversidade.
E o mundo observa. A operação policial recente que repercutiu internacionalmente reacendeu debates globais sobre segurança, desigualdade e direitos humanos. Assim como, antes disso, a visita do Papa Francisco colocou o Rio no centro do debate moral sobre pobreza e dignidade. O Rio incomoda, inspira, provoca, convoca. É por isso que ele é tão importante para o Brasil agora.
Mas não basta ser símbolo. É preciso ser projeto. O Rio precisa assumir sem medo seu papel como possível capital política, cultural e ambiental do BRICS. Isso significa sediar fóruns permanentes do bloco, atrair centros de inovação climática, promover a diplomacia Sul-Sul, criar ambientes seguros e criativos para arbitragem internacional, transformar cultura em política pública e fazer do turismo uma ferramenta de desenvolvimento real.
Isso inclui integrar comunidades, proteger a natureza e usar tecnologias como a blockchain para tornar a multipropriedade um instrumento transparente e confiável, garantindo rastreabilidade, segurança jurídica e benefício econômico para moradores, investidores e visitantes. Significa transformar o Rio em uma cidade-escola, onde universidades, favelas, artistas, cientistas e empreendedores formam uma grande rede viva de conhecimento e impacto social.
O Brasil tem credenciais únicas para ocupar o centro dessa transformação global. E o Rio tem o poder simbólico e humano para mobilizar esse movimento. Estamos vivendo o nascimento de um novo constitucionalismo global, em que sustentabilidade, governança transparente e justiça intergeracional deixam de ser discursos e se tornam pilares jurídicos de uma nova ordem mundial.
O que está em jogo não é apenas o futuro do clima. É o futuro do capitalismo. É o futuro das cidades. É o futuro das relações internacionais. É o futuro da própria humanidade. E o Brasil tem a chance rara de não ser espectador, mas arquiteto desse novo mundo.
A história colocou diante de nós uma grande encruzilhada. Podemos continuar repetindo modelos que falharam ou assumir a liderança na construção de um caminho sustentável, justo e inteligente para o planeta. O Brasil está pronto. O Rio está pronto. E o mundo, mais uma vez, olha para nós.
A essa altura, sua contribuição individual e coletiva pode começar simplesmente compartilhando esses propósitos. Mais do que uma reflexão, é um chamado: o novo amanhecer é agora. E começa aqui.
* Jorge Tardin – advogado, professor de Direito e Embaixador da Coalizão Veredicto do Capital
jgtardin@tardin.com.br
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