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Farol de São Thomé | Reprodução
Reportagem Especial - via Agenda do Poder
Se você achava que a Torre Eiffel era o ápice da engenharia europeia do século XIX, é porque nunca ouviu falar do primo distante que ela tem no litoral fluminense: o Farol de São Thomé. Erguido em 1882 por ninguém menos que a companhia de Gustave Eiffel — sim, aquele Eiffel — o farol de ferro fundido repousa estoicamente em meio às areias do Cabo de São Thomé, piscando serenamente a cada 68 segundos, como quem diz: “aqui se faz sinal com classe”. Com seus 45 metros de altura e estrutura à prova de maresia, ele segue firme enquanto boa parte da orla ao redor briga com o esgoto e o abandono.
Durante décadas, o Farol foi o ponto alto do verão campista, atraindo multidões com shows, quiosques e uma certa nostalgia de cidade interiorana com vocação marítima. Era como uma Copacabana mais introspectiva, com feirinha de artesanato e bandas de axé substituindo os beach clubs.
Ainda hoje, apesar das dificuldades logísticas e da ausência de uma infraestrutura turística robusta, o local se reinventa todo verão com eventos culturais, projetos ambientais e um charme rústico que não se encontra nos destinos mais óbvios.
Mas antes de fazer as malas, vale lembrar: essa viagem é para quem curte o lado B do litoral fluminense. Não espere resorts nem caipirinhas gourmetizadas. O que você vai encontrar é uma praia extensa, com ventos incessantes, mar de água escura e brava, com direito a um farol centenário que desafia o tempo e um pôr do sol que, nos bons dias, rivaliza com os de Jericoacoara, só que com menos filtro e mais ferrugem — quer dizer, com ferro que não enferruja.

A viagem é para quem curte o lado B do litoral fluminense | Reprodução
O farol foi mesmo projetado por Gustave Eiffel?
O Farol foi projetado pela Société des Établissements Eiffel — a mesma empresa de Gustave Eiffel envolvida na construção da Torre Eiffel e da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque. Entretanto, historiadores até hoje debatem se a obra foi, ou não, necessariamente desenhada pelo próprio Eiffel. O mais provável é que ele tenha sido desenvolvido pela equipe técnica da sua companhia, com alguns pitacos do patrão.
A inspiração técnica veio do modelo de farol metálico tipo “Mitchell”, com tubulão central e hastes rosqueadas, usado pela primeira vez na Inglaterra na década de 1830. Esse design foi adaptado pela empresa francesa para garantir estabilidade na base arenosa do Cabo São Thomé.
História da cidade
Campos dos Goytacazes tem raízes que remontam ao período colonial português, com grande importância na economia açucareira e depois na produção de petróleo e sal. A cidade cresceu em torno do rio Paraíba do Sul, o qual formou grandes áreas de sedimentos, como o Cabo de São Thomé.
A história cultural da cidade é mais deliciosa do que os seus famosos chuviscos (um doce a base de ovos e baunilha de origem portuguesa). Durante o ciclo da cana-de-açúcar Campos viveu uma verdadeira era de ouro, marcada pelos majestosos casarões dos donos de engenho, dos quais alguns sobreviveram até hoje como o belíssimo Solar dos Airizes, que foi utilizado como locação para diversas cenas da novela “A Escrava Isaura”, tanto na versão de 1976 da Rede Globo, quanto na de 2004 da TV Record.
Campos foi também endereço da primeira livraria do Brasil, a Ao Livro Verde, fundada em 1844, mas que não resistiu ao fechamento do comércio local durante a pandemia da Covid e baixou as portas em 2003. E contou com o terceiro jornal mais antigo do Brasil: o Monitor Campista, que circulou entre 1834 e 2009.
O apogeu como ponto turístico
O farol e a praia ganharam destaque regional especialmente nos verões a partir da década de 2010, quando a prefeitura passou a promover eventos culturais e shows à beira?mar, como o famoso “Verão da Família”, atraindo nomes nacionais e milhares de visitantes.

Praia virou destino concorrido | Reprodução
Na época, a orla ficava repleta de barraquinhas, música ao vivo, esportes ao ar livre e até projeto Tamar monitorando tartarugas. A combinação de programação e paisagem transformou a praia num destino popular, embora sua infraestrutura ainda enfrente desafios.
Por que o farol não enferruja?
O Farol tem 45 m de altura e possui 216 degraus até a lanterna. Foi construído com ferro especial, resistente à corrosão, o que explica o excelente estado de conservação mesmo após quase 140 anos. Sua lanterna original tinha lente de vidro de 3 cm e lâmpada de 1 000 W, emitindo oito feixes de luz com alcance inicial de 25 milhas náuticas (cerca de 46 km), reduzido depois para cerca de 19 milhas (cerca de 35 km) após um incêndio em 1967.
Onde fica?
O Farol de São Thomé está na Praia do Farol, uma península (Cabo de São Thomé) situada cerca de 50 km a sudeste do centro de Campos dos Goytacazes. A região se formou por sedimentos do Rio Paraíba do Sul e é bem identificável por conta das casuarinas da orla e a torre imponente ao final da península.
O que devo saber antes de ir?
A infraestrutura local é limitada: a Vila dos Pescadores sofre com esgoto e transporte público precário, especialmente na baixa temporada. Leve protetor solar, água e uma certa, digamos, flexibilidade para eventuais adversidades, pois embora haja hotelaria simples e um camping municipal, serviços como farmácias, supermercados e agências bancárias podem estar distantes. O camping funciona apenas no verão.
Melhor época para viajar e por quê
A alta temporada de verão (dezembro a fevereiro) é a mais popular, com programação cultural intensa, shows, esportes aquáticos e vida social vibrante na orla. Além disso, o Projeto Tamar opera de setembro a março na área de desova de tartarugas marinhas, o que pode render visitas educativas e monitoramento de filhotes nas praias próximas ao farol.

Casarão Solar dos Airizes | Reprodução
O que mais tem para fazer por lá
Além de visitar o farol, você pode curtir a extensa faixa de areia, praticar esportes de praia (vôlei, surfe, windsurf ou vela) e aproveitar o calçadão de mais de seis quilômetros com restaurantes e quiosques. Também há passeios de caiaque e pedalinho na APA do Lagamar, visita ao manguezal da Ilha de Carapeba e ao camping municipal à beira-mar.
É caro viajar até lá?
Os custos são relativamente modestos. Passagens de ônibus desde o Rio de Janeiro ou Niterói até a rodoviária de Farol de São Thomé saem entre custam a partir de R$ 140, dependendo da companhia escolhida. E a viagem leva em média 6 horas e 11 minutos.
As opções de hospedagem incluem pousadas com diárias a partir de R$ 250, aluguel por temporada ou no camping oficial, que admite barracas por valores entre R$ 30 e R$ 150, com infraestrutura básica de chuveiros e churrasqueiras.
Vale a pena conhecer?
Se você valoriza história, natureza e uma praia tranquila com charme regional este é o seu lugar. O farol é um patrimônio arquitetônico singular, a praia oferece atividades variadas e o Projeto Tamar agrega valor ambiental e educativo.
Por outro lado, se você busca infraestrutura de luxo, agito urbano constante ou serviços abundantes, talvez prefira destinos com melhor estrutura. Mas para quem gosta de um local autêntico e diferente, é uma visita que compensa planejar.
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