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Complexo de Israel surgiu em 2020, com domínio de cinco comunidades na zona norte do Rio – Reprodução/Redes Sociais
A expansão do Terceiro Comando Puro (TCP) vem redesenhando o mapa do crime organizado no Brasil. Conhecida por símbolos e discursos ligados ao pentecostalismo, a facção, antes concentrada no Rio de Janeiro, vem ampliando territórios e se consolidando como terceira maior força criminosa, atrás de Comando Vermelho (CV) e Primeiro Comando da Capital (PCC). A conclusão é de um relatório recente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
Surgimento do ‘Complexo de Israel’ e liderança misteriosa
No Rio, o TCP ficou nacionalmente conhecido a partir de 2020, quando estabeleceu domínio sobre cinco comunidades da zona norte, batizando a região de Complexo de Israel. Uma estrela de Davi gigante instalada no alto de uma caixa d’água simbolizava o território controlado. A peça foi derrubada pela polícia em março deste ano, durante operação que removeu também um imóvel de luxo ligado ao chefe local do tráfico, Álvaro Malaquias Santa Rosa, o “Peixão”. Ele, no entanto, nunca foi preso, e sua trajetória religiosa permanece envolta em dúvidas.
Expansão para nove estados e avanço acelerado no Ceará
Segundo a Abin, a facção ultrapassou as fronteiras do Rio e chegou a Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amapá, Acre, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. O órgão classifica o TCP como “grupo emergente no contexto nacional”. No Ceará, símbolos como a estrela de Davi e frases como “Jesus é dono do lugar” começaram a aparecer em cidades da região metropolitana de Fortaleza nos últimos meses, e foram confirmados pela BBC de Londres no local.
Pressões, ameaças e investigação sobre intolerância religiosa
Em outubro, denúncias indicaram o fechamento de terreiros de umbanda em Maracanaú por imposição de criminosos. A Polícia Civil do Ceará afirma que investiga os casos e que monitoramento contínuo vem sendo realizado desde setembro, quando 37 integrantes da facção foram presos.
Aliança com GDE impulsiona entrada no estado
O avanço no Ceará ocorreu após aliança com o GDE (Guardiões do Estado), grupo responsável por episódios de extrema violência em Fortaleza. Com o enfraquecimento do GDE após prisões de líderes, parte de seus membros migrou para o TCP e ajudou a estabelecer a facção em novas áreas.
Ligação com PCC e aproximação de milicianos
Pesquisadores apontam três eixos fundamentais para explicar o fortalecimento do TCP: menor confronto com forças de segurança, parceria estratégica com o PCC — que garante acesso a redes internacionais de tráfico — e relação próxima com grupos milicianos. A facção também tem replicado práticas de extorsão comuns às milícias em estados onde tenta se consolidar.
Conflitos com o CV alimentam cenário de risco
Criado em 2002 após ruptura interna no Comando Vermelho, o TCP mantém guerra ativa contra seu grupo de origem, principalmente no Rio. Com o avanço da facção para outros estados, especialistas alertam para a possibilidade de novos confrontos violentos, sobretudo no Nordeste, região onde cidades como Maracanaú e Maranguape já registram algumas das maiores taxas de homicídio do país.
Episódios de violência recente no Ceará
Nos últimos meses, disputas entre facções resultaram em tiroteios que levaram ao fechamento de escolas e ao esvaziamento de um vilarejo em Morada Nova. Moradores relatam viver sob medo constante, com famílias impedidas de circular em áreas dominadas por grupos rivais. Para muitos, a chegada do TCP representa continuidade de uma rotina marcada por ameaças, toques de recolher e restrições de circulação.
Religiosidade como elemento de identidade criminosa
A adoção explícita de simbologia pentecostal não é exclusiva do TCP, mas o grupo é o caso mais emblemático do que pesquisadores chamam de “narcopentecostalismo”. Estudiosos afirmam que discursos religiosos passaram a integrar estratégias de legitimação territorial. Confrontos com o Comando Vermelho, associado a símbolos afro-religiosos, chegam a ser tratados como “guerra espiritual”.
Retórica religiosa e poder dentro das comunidades
Embora setores evangélicos tradicionais rejeitem a ideia de “traficantes evangélicos”, estudiosos apontam que a facção cria uma unidade ideológica a partir da fé. Grafites e murais que antes remetiam a religiões de matriz africana foram substituídos por mensagens cristãs nas áreas de influência do grupo. No Ceará, relatos de intimidação e ataques ligados a intolerância religiosa preocupam entidades que acompanham a situação.
Presença crescente nas prisões e efeito social
Censos recentes do sistema prisional cearense indicam que 43% dos presos se identificam como evangélicos — cenário que, segundo especialistas, ajuda a entender a adesão de integrantes de facções a discursos religiosos. A combinação entre desemprego, desigualdade social e expansão do protestantismo cria ambiente fértil para recrutamento.
Via Agenda do Poder
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