Documento revela temor de desembargador com vazamento de vídeo da ‘festa da cueca’

Suspeita era de que imagens foram usadas por Moro como instrumento de chantagem para pressionar colegas

Documento revela temor de desembargador com vazamento de vídeo da ‘festa da cueca’

Por Alice Maciel 

Documento ao qual o ICL Notícias teve acesso revela que um ex-desembargador do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) participou da chamada “festa da cueca”, realizada em um quarto de hotel em Curitiba com a presença de magistrados e garotas de programa. Segundo os registros, o desembargador, “com medo de que as fitas das festas vazassem, contou para a mulher que foi filmado pelado”. O mesmo magistrado participou do julgamento de processos relacionados à Operação Lava Jato.

Segundo denúncias de colaboradores da própria operação — atualmente sob investigação da Polícia Federal (PF) —, o episódio teria sido usado pelo ex-juiz Sergio Moro, hoje senador, como instrumento de chantagem para pressionar colegas e assegurar a manutenção de condenações de investigados. Um vídeo do evento foi apreendido pela PF. É a primeira vez, no entanto, que um documento vem a público confirmando a “festa da cueca”.

De acordo com a descrição do arquivo de áudio de uma conversa do então desembargador do TRF4, ao qual a reportagem teve acesso, o magistrado “contou que estava pelado em uma festa”. Os registros indicam que ele tinha conhecimento de que havia sido filmado e demonstrava temor de que as imagens viessem a público.

A conversa, no entanto, foi gravada de forma ilegal. À época, o desembargador possuía foro por prerrogativa de função e foi interceptado pelo advogado Sérgio Costa, colaborador da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Festa da cueca

Conforme revelou nesta quarta-feira (17) a jornalista Daniela Lima, no portal UOL, a Polícia Federal encontrou, durante busca e apreensão na vara, provas documentais de que Sergio Moro teria grampeado autoridades com foro privilegiado por meio de colaboradores, entre eles Sérgio Costa.

O ICL Notícias também teve acesso ao documento revelado pelo UOL, de julho de 2005, em que Moro exige que o colaborador Tony Garcia tentasse gravar “novamente” o presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE-PR), Heinz Herwig, alegando que as gravações anteriores eram “insatisfatórias para os fins pretendidos”. Também tivemos acesso à íntegra do grampo de Herwig.

A busca e apreensão na 13ª Vara Federal de Curitiba, foi realizada pela PF em 3 de dezembro, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, após repetidas cobranças por documentos, arquivos e gravações da Operação Lava Jato, que não haviam sido encaminhados à Corte, mesmo após Sergio Moro deixar o cargo de juiz.

A PF investiga suspeitas de que colaboradores teriam sido usados para grampear autoridades a mando de Moro, com a finalidade de submetê-las a chantagens e pressões posteriores. O inquérito corre em segredo de Justiça.

O ICL Notícias entrou em contato com a assessoria do senador Sergio Moro (União Brasil-PR), que enviou uma nota reproduzida a seguir:

“O senador Sergio Moro nega que tenha tido acesso a qualquer vídeo denominado de “festa da cueca” envolvendo outros magistrados ou que tenha autorizado escuta contra desembargadores do TRF4. Igualmente é mentirosa e fantasiosa a afirmação de que desembargadores do TRF4 atuantes na Lava Jato teriam sido chantageados de qualquer forma.

O ICL divulga calúnias infundadas contra o senador e contra a honra de desembargadores que atuaram na Lava Jato e que nunca se permitiriam ser chantageados ou envolvidos em situações vexatórias”.

Por Jornal da República em 18/12/2025
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