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O senador Sergio Moro (União Brasil) acusou um dos criminosos mais procurados do Rio de ter participado dos planos para matá-lo em conjunto com o PCC.
O ex-juiz e ex-ministro da Justiça no governo Bolsonaro diz que Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, também teria tramado o sequestro de outras autoridades.
No documento, obtido com exclusividade pela Agenda do Poder, Moro apontou que o ex-juiz Marcelo Bretas e Lincoln Gakiya, promotor de SP responsável por investigar o PCC, também estariam na mira do ataque com a participação de Peixão, apontado pelas autoridades como líder do Terceiro Comando Puro e conhecido por usar a religião evangélica para expandir a sua área de domínio nas favelas do Rio.
“Traficantes do PCC tinham intenção de me matar e de sequestrar outras autoridades. Porém, tem um [traficante] do Rio de Janeiro que não foi capturado e que participaria dos ataques. Solicito que localizem o paradeiro de Peixão, que está em parceria com o PCC”.
Sérgio Moro, em documento obtido pela Agenda do Poder
A denúncia, feita junto ao Ministério Público Federal em 2023, foi encaminhada ao MP do Rio por “declínio de atribuição”, termo usado quando um órgão não se julga competente para avaliar um caso. O conteúdo foi anexado a um processo contra Peixão em outubro de 2024.
Procurado pela Agenda do Poder, o MP se limitou apenas a dizer que as investigações desses casos são sigilosas.
Taxas, agressões e intolerância religiosa, diz denúncia
Peixão também é investigado em um processo instaurado pelo MP do Rio após denúncias anônimas feitas no fim de 2024 por moradores da favela Cinco Bocas, em Brás de Pina, Zona Norte do Rio.
Segundo eles, o traficante ordenou que carros antigos fossem rebocados do local e proibiu roupas brancas por pessoas de religião de matriz africana em um caso de intolerância religiosa. Ele foi acusado de ataques contra religiões diferentes.
Em julho de 2024, Peixão teria espalhado rumores entre moradores do Complexo de Israel de que bandidos armados iriam a igrejas católicas da região para fechá-las. Por precaução, três igrejas fecharam temporariamente.

Demolição do ‘resort’ de Peixão em Parada de Lucas ocorreu na última terça-feira — Foto: Gabriel de Paiva / Agência O Globo / 11-03-2025
A postura “linha dura” adotada na favela também inclui “vasculhar o conteúdo” dos celulares em abordagens, com casos de agressão e até expulsão de um morador. Ele também foi acusado de cobrar taxas, ordenar abordagens a visitantes de moradores e de colocar “olheiros” do tráfico nos terraços das casas.
Ainda de acordo com a denúncia, moradores com três meses de atraso no pagamento do condomínio em prédios sob o domínio do “bonde do Peixão” são expulsos.

Fuzis anti-drone da China e ‘resort de luxo do crime’
Uma operação policial para capturar Peixão em março deste ano identificou um “resort de luxo do crime” no Complexo de Israel, Zona Norte do Rio. No local, havia piscina, uma academia com aparelhos modernos e até um lago artificial para a criação de carpas. O imóvel de luxo foi construído em uma área de preservação ambiental.
Em expansão das suas atividades criminosas, a facção liderada pelo traficante também passou a investir na guerra contra o Comando Vermelho, principal facção criminosa do Rio. A Polícia Federal indica que Peixão importou fuzis anti-drone da China. O bloqueador de sinais de alta tecnologia impede o rastreamento de veículos e celulares.

A remessa com a mercadoria foi enviada em junho de 2024 para Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, aponta a investigação. O endereço de envio é o de Everton Vieira Francesquet, preso sob a acusação de ser o armeiro do TCP. Ele também é acusado de adquirir lançadores de granada comprados no Paraguai. O material foi apreendido em uma operação da PF em julho de 2024 em uma agência dos Correios.
“Toda semana, a gente vai tá comprando alguma coisa. Hoje, o mais certo de tudo é o drone. Ele vai dar teu dinheiro hoje. E já vamos te mandar o dinheiro do drone”.
Peixão em áudio ao comparsa obtido pela PF
Após receber a foto do material, o traficante se empolga: “Coisa linda, irmão! A gente tem que vim [sic] com todo esse aparato de inteligência possível. Esses drones que jogam bomba aí, a gente tem que comprar com urgência!”.

Como Peixão expandiu seu território e ocupou área do CV
Traficante invadiu áreas que eram reduto histórico do Comando Vermelho. Segundo fontes na Polícia Civil ouvidas pela Agenda do Poder, Peixão expandiu a sua área de domínio entre o fim de 2017 e o começo de 2018.

A Tropa do Arão surgiu na Parada de Lucas, depois tomando o controle de Vigário Geral, Cidade Alta, Pica-Pau e Cinco Bocas, na Zona Norte do Rio.
“O mundo do crime se legitima pelo terror. Mas a religião faz com que ele [Peixão] adquira um outro tipo de poder diante dos seus comandados. A cúpula da facção usa termos bíblicos em conversas informais, e demonstram ter uma espécie de devoção pelo líder da quadrilha, a quem se referiam como ‘Irmão de Moisés’”.
Marcus Amim, delegado da Polícia Civil do Rio
Em áudio obtido pela reportagem, Peixão fala sobre “nova doutrina” e se refere à organização criminosa como “exército do Deus vivo”.
“Menor não tá aqui pra ser usado e pra ser morto pela gente, não. Menor tá aqui pra ser instruído, entendeu? Pra ser ensinado uma nova doutrina (…). A partir de agora e para sempre, a Cidade Alta é Terceiro Comando Puro, bonde dos Taca Bala, o exército do Deus vivo, entendeu? Lá de Israel”.
Peixão, em áudio
De acordo com investigações, Peixão tem sido um dos principais líderes do TCP na negociação para trazer drogas e armas de países como Paraguai, Colômbia e Venezuela devido à sua rede de contatos no exterior. Nas áreas sob o domínio de Peixão, há trechos bíblicos, bandeiras do Estado de Israel e imagens de Cristo em grafites e pinturas gospel.
Pelo menos 200 pessoas foram vítimas do TCP nos últimos dois anos no RJ. Em um dos golpes, os criminosos criam anúncios falsos de veículos na internet para sequestrar “clientes” interessados. O dinheiro que seria destinado à compra do carro é roubado e eles pedem Pix aos familiares para soltar os sequestrados.
Via Agenda do Poder
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