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A prisão do cantor de funk MC Poze do Rodo, realizada recentemente pela Polícia Civil do Rio de Janeiro, trouxe à tona um debate sobre os limites entre a liberdade artística e a apologia ao crime. Segundo investigação da polícia, as letras do MC funcionariam como propaganda para o Comando Vermelho (CV), principal facção criminosa do estado, promovendo o uso de armas de grosso calibre, tráfico de drogas e incitação à violência contra grupos rivais. A reportagem é baseada em informações apuradas pelo portal G1.
De acordo com o delegado Curi, responsável pelo caso, “as músicas desse falso artista têm um alcance incalculável e, muitas vezes, são muito mais lesivas do que um tiro de fuzil disparado por um traficante”. Ele ressalta que o conteúdo ultrapassa o limite da liberdade de expressão artística e se enquadra claramente no crime de apologia, previsto no artigo 287 do Código Penal Brasileiro, cuja pena pode variar entre três e seis meses de prisão, ou multa.
Letras que exaltam violência e facção
Nas composições de Poze do Rodo, há referências diretas e explícitas ao Comando Vermelho e aos símbolos do tráfico, como armas e territórios dominados pela facção. Um dos trechos citados pela polícia diz:
“Fala que a tropa é Comando Vermelho
Oi, na VK os menor te acerta
Só soldado bom de guerra
Que te mira e não te erra
Só AKzão na favela
Com vários pentão reserva
Aonde entrar, cês leva…
É bala nos três c*, é bala nos três c*
De 62 é só papum e os alemão aqui nem tenta
De Glock e de radin, fumando um baseadin
Destrava o G3zão que se piar, nós quebra”
No contexto, “VK” refere-se à Vila Kennedy, comunidade dominada pelo Comando Vermelho; “AKzão”, “62” e “G3zão” são modelos de fuzil; “pentão reserva” indica munição disponível; “três c*” é gíria para rivais; “alemão” também designa inimigos da facção; “Glock” é um modelo de pistola.
Outro trecho analisa o ódio às facções rivais TCP (Terceiro Comando Puro) e ADA (Amigos dos Amigos), citando a exaltação de armamento pesado:
“Os TCP*ta tá peidando pro bloco dos cria
Nós odeia ADA e TCP
Desde menor sou Comando, nós é relíquia
Trem bala dos manos
Com os fuzil tudo na pista, ah, ah, ah
Tropa do General com vários ParaFAL”
O delegado explica que o ADA, outrora a segunda maior facção do Rio, hoje foi superada pelo TCP, grupo rival do Comando Vermelho, e que “ParaFAL” é outro tipo de fuzil.
Em referência à Cidade de Deus (CDD), área da Zona Oeste do Rio, Poze canta:
“Na CDD só tem bandido faixa preta
Oi, que a tropa tá na pista
Geral com fuzil na mão
Se tentar no Karatê, vai tomar só rajadão
Se pisar no 15 você vai ficar f*dido
Que é só os pitbull de raça
Brabo na troca de tiro…
Nós tem Glock, tem AK, 62 com mira laser
Terror dos alemão, é os moleque da 13
Nós vamo voltar pra casa e botar a bala pra comer
Retomar o que é nosso e gritar: É o CV!…
Na CDD só tem bandido faixa preta
Tentaram vir pegar o homem e a bala voou
Nós é Comando Vermelhão de natureza
A meta é voltar pro Rodo e voltar pro Batô”
As localidades “Karate”, “13” e “15” mencionadas são pontos da Cidade de Deus; “Rodo” refere-se a Santa Cruz; “Batô” é o Bateau Mouche, em Jacarepaguá. As referências indicam comunidades perdidas para grupos rivais, que a facção pretende retomar.
Bailes funk e fortalecimento do crime organizado
Além das letras, a polícia investiga também os bailes e eventos promovidos pelo MC Poze do Rodo, que seriam usados como canais para movimentar o tráfico de drogas e fortalecer a facção. “Os bailes servem para aumentar o consumo de entorpecentes e gerar lucro para o Comando Vermelho, que utiliza os recursos para a compra de armamentos”, afirmou a autoridade policial. As apurações continuam para identificar possíveis financiadores e outros envolvidos na organização desses eventos, que contribuem para o avanço da violência e do crime nas comunidades.
Via Agenda do poder
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