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Jovens participaram do primeiro módulo do percurso formativo em Brasília
Aos 22 anos, Hemilly Pacheco, moradora do Sol Nascente, em Ceilândia, a cerca de 35 quilômetros da capital federal, carrega na voz a força de quem superou muitas barreiras. “Em que momento da minha vida meus direitos foram respeitados? Eu sinto que foi quando entrei na universidade pública pelas cotas. Ali, eu entendi o meu lugar e comecei a entender o desafio de ser uma mulher preta e LGBTQIAPN+ na faculdade. Hoje estou formada e pronta para novas etapas”, contou.
A história de Hemilly é parecida com a de vários outros jovens do Distrito Federal. Cerca de 120 deles passaram a integrar as quatro turmas do DF no projeto Jovens Defensores Populares. A iniciativa foi lançada no dia 13/6, na Fiocruz Brasília, com o objetivo de formar, em todo o país, mil jovens de regiões periféricas, faveladas, de comunidades tradicionais e de baixa renda, entre 18 e 29 anos, para atuar como defensores e defensoras de direitos humanos em seus territórios.
Os jovens participaram do primeiro módulo do percurso formativo, que abordou temas como a relação entre Estado e política públicas; movimentos sociais, lutas e organização popular no território; como se organiza a sociedade na perspectiva da construção e garantia dos direitos; os poderes do Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário; e como se organiza a sociedade. Fruto de uma parceria entre a Secretaria de Acesso à Justiça do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Saju/MJSP), a Secretaria Nacional de Juventude (SNJ) e o Agenda Jovem da Fiocruz, o projeto busca empoderar jovens historicamente vulnerabilizados. A formação abrange temas como direitos civis, políticos, sociais, econômicos, culturais e ambientais.
“Queremos que esses jovens se tornem agentes de transformação nos seus territórios, enfrentando desigualdades históricas e promovendo a cidadania”, afirmou a secretária da Saju, Sheila de Carvalho. Ela destacou que o projeto também oferecerá suporte psicossocial: “Viemos de territórios de violência. Isso nos atravessa de muitas formas. Por isso, o acesso à saúde mental também faz parte desse processo”.
No Distrito Federal, as turmas são formadas por jovens de Ceilândia, São Sebastião e Sobradinho. Os três territórios têm algo em comum: concentram algumas das maiores desigualdades sociais da capital do país. Ceilândia, com mais de 400 mil habitantes, é a região administrativa mais populosa do DF. É também onde se concentram altos índices de informalidade no trabalho e onde a renda média per capita gira em torno de R$ 800 mensais, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal.
Em São Sebastião, região com cerca de 115 mil habitantes, o cenário também é de vulnerabilidade. Grande parte da população depende de serviços públicos essenciais e o acesso à educação e saúde de qualidade ainda é um desafio diário. Já Sobradinho, com aproximadamente 70 mil moradores, é marcada por desigualdades internas: enquanto áreas mais centrais têm infraestrutura consolidada, comunidades periféricas enfrentam limitações em transporte, educação e segurança.
Representando a diretora da Fiocruz Brasília, Fabiana Damásio, o coordenador de Integração Estratégica da Fiocruz, Wagner Martins, destacou a importância de a instituição estar ao lado da juventude. “Por que uma instituição de saúde pública participa de projetos como esse? Porque falar de saúde é falar também de direitos, de território, de enfrentamento da desigualdade. A Fiocruz é uma instituição de defesa e cuidado”, afirmou. Wagner lembrou ainda que o DF é uma das unidades federativas com os maiores contrastes sociais do país. “Aqui, convivem os maiores e os menores índices de desenvolvimento humano. Temos o melhor e o pior, lado a lado”.
O coordenador nacional do Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, reforçou que o Jovens Defensores não é apenas um curso, mas um percurso formativo. “Este projeto nasceu da escuta das juventudes. Ele é construído coletivamente e cada território vai dar a sua marca”, disse. O projeto teve início no Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco e em breve será lançado na Bahia e no Pará.
Emocionado, o coordenador distrital do projeto, Gabriel Sales, falou sobre as barreiras enfrentadas pelos jovens do território. “O mundo é diferente da ponte pra cá. São outras realidades, outras urgências, outros sonhos interrompidos por falta de transporte, de saúde, de educação. Mas é também daqui que surgem as maiores resistências".
Durante a cerimônia, falas como a da socióloga e ativista brasileira de Salvador, Vilma Reis, lembraram que o projeto também é uma resposta concreta à luta histórica de direitos das juventudes negras, periféricas, indígenas e LGBTQIAPN+. O educador e coordenador nacional do projeto Douglas Belchior provocou a plateia com uma frase que ecoou forte no auditório: “A paz sem voz não é paz, é medo. O que a gente está inaugurando aqui hoje é um projeto que dá voz. Um projeto para fazer barulho.” A abertura do Jovens Defensores Populares no DF marca um novo capítulo na luta por justiça social e direitos humanos. O evento contou ainda com a participação do rapper, cantor e escritor GOG (Genival Oliveira Gonçalves), um dos pioneiros do hip hop no Distrito Federal e um dos principais nomes do rap nacional, e dos deputados Max Maciel e Érika Kokay.
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