Sindicato de Jornalistas de São Paulo denuncia novo ciclo de ameaças ao jornalismo

Foto: Cadu Bazilevski/ Sindicato dos Jornalistas de São Paulo

Sindicato de Jornalistas de São Paulo denuncia novo ciclo de ameaças ao jornalismo

No dia em que Vladimir Herzog completaria 88 anos, em 27 de junho passado, entidades de defesa do jornalismo e dos direitos humanos, entre as quais a ABI e a Abraji, se reuniram para dar início às homenagens pelos 50 anos do assassinato de Vlado e reafirmar o compromisso com a memória, a verdade e a justiça. O palco desse encontro foi o auditório do Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo, na capital paulista, e contou com a participação de Ivo Herzog, representando a família. A ABI foi representada por sua vice-presidente, Regina Pimenta.

Realizado no mesmo auditório onde os jornalistas se mobilizaram para denunciar o assassinato de Vlado, o evento teve como mote o manifesto Em Nome da Verdade, publicado em 1976 e assinado por mais de mil jornalistas que ousaram enfrentar a ditadura. Foi um momento de reflexão sobre o passado e, sobretudo, sobre os desafios atuais do jornalismo brasileiro.

Em novo manifesto, o Sindicato dos Jornalistas, presidido por Thiago Tanji, e o Instituto Vladimir Herzog denunciaram que “o jornalismo brasileiro atravessa um novo ciclo de ameaças”:

“A violência física, os ataques digitais, o assédio judicial e a tentativa de deslegitimar o trabalho da imprensa, por meio da desinformação, compõem hoje o cotidiano de profissionais e ativistas da comunicação”.

De acordo com o documento assinado por mais de 50 pessoas, “a liberdade de expressão e de informação jornalística, conquistada com suor e sangue, está mais uma vez em risco não apenas por ação direta do Estado, mas por um ecossistema de ameaças múltiplas, em que o poder econômico, político e tecnológico opera muitas vezes contra a transparência, o pluralismo e o interesse público.”

LEIA A ÍNTEGRA DO DOCUMENTO ‘EM NOME DA VERDADE: 50 ANOS DEPOIS’

“Cinquenta anos se passaram desde que Vladimir Herzog foi torturado e assassinado nas dependências do DOI-CODI, em um dos episódios mais brutais da história do Brasil. Naquele momento, jornalistas se uniram aqui neste auditório, em um gesto histórico e corajoso, para organizar uma grande mobilização social para exigir justiça, denunciar mentiras e reafirmar o compromisso da profissão com a verdade e os direitos humanos.

Hoje, meio século depois, nos reunimos novamente jornalistas, comunicadores, estudantes, defensores da democracia e ativistas de direitos humanos para lembrar Herzog e tudo o que ele representa para nós e para todo o país.

Mas não estamos aqui apenas para lembrar o passado. Estamos aqui porque o presente também exige nossa atenção. O jornalismo brasileiro atravessa um novo ciclo de ameaças. A violência física, os ataques digitais, o assédio judicial e a tentativa de deslegitimar o trabalho da imprensa, por meio da desinformação, compõem hoje o cotidiano de profissionais e ativistas da comunicação.

A liberdade de expressão e de informação jornalística, conquistada com suor e sangue, está mais uma vez em risco não apenas por ação direta do Estado, mas por um ecossistema de ameaças múltiplas, em que o poder econômico, político e tecnológico opera muitas vezes contra a transparência, o pluralismo e o interesse público.

Não podemos ignorar que essa violência contra o jornalismo ultrapassa nossas fronteiras. Enquanto nos reunimos neste auditório, na Faixa de Gaza dezenas de jornalistas palestinos já foram assassinados em meio aos bombardeios e à ofensiva militar de Israel. A morte deliberada de jornalistas é uma das formas mais brutais de censura e um atentado direto ao direito de toda sociedade saber o que acontece. A cada profissional silenciado sob os escombros, morre um pedaço da liberdade de todos nós.

Por tudo isso, nós, jornalistas, comunicadores e defensores de direitos humano reunidos neste auditório que carrega o nome de Vladimir Herzog, reafirmamos nosso compromisso inegociável com a verdade, com a liberdade de expressão, com o direito da sociedade à informação e com a memória de todos que sacrificaram suas próprias vidas na defesa desses princípios.

Assim como em 1975, voltamos a dizer: não aceitaremos silêncios forçados, não normalizaremos mentiras institucionalizadas, não deixaremos sozinhos os que sofrem por exercer o seu ofício com dignidade e responsabilidade. Lutaremos por estruturas de proteção, por marcos legais capazes de combater a contra a desinformação, por melhores condições de trabalho, contra a criminalização de comunicadores populares e comunitários, e por um país e um mundo todo – onde informar nunca seja um ato de risco.

Em nome da verdade – ontem, hoje e sempre.”

O documento foi lido por Giuliano Galli, do Instituto Vladimir Herzog.

Por Jornal da República em 04/07/2025
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