Território de samba: Viradão Cultural Suburbano completa seis anos valorizando periferia carioca

Festival gratuito reafirma importância histórica da região Leopoldina para o samba e choro carioca O Viradão

Território de samba: Viradão Cultural Suburbano completa seis anos valorizando periferia carioca

Zona norte celebra cultura popular com 6ª edição do Viradão Cultural Suburbano Cultural Suburbano chega à sua sexta edição neste final de semana, ocupando os bairros da Penha, Méier e Cascadura com uma programação que celebra a rica tradição cultural da zona norte carioca. O evento, que começou nesta sexta-feira (14) no Centro Cultural Casa do Artista Independente, em Cordovil, promete três dias de debates, rodas de samba e lançamentos literários, todos com entrada gratuita.

A abertura do festival trouxe como tema central a história do samba e do choro na zona Leopoldina, região que abrange 13 bairros cortados pela antiga estação ferroviária. Para o coordenador do evento, Cláudio Jorge Soares, essa área moldou um comportamento sociocultural único na cidade. "A chegada do samba e do choro nessa região configurou um jeito de vida e de ocupação das ruas, esse jeito do suburbano de fazer coisas na rua como se fosse extensão da sua casa", explicou o pesquisador.

O evento também coloca em pauta questões urbanas contemporâneas, debatendo o projeto Reviver Zona Norte da Prefeitura, que deve começar por Bonsucesso. Segundo Soares, a região Leopoldina, que abriga cerca de um milhão de habitantes, sofre com esvaziamento econômico e abandono de políticas públicas culturais. "Há uma disparidade nos investimentos públicos em comparação com outras regiões da cidade que concentram menos pessoas", denunciou.

Resistência cultural e valorização territorial

Criado em 2019 pelo Instituto Cultural 100% Suburbano, o Viradão nasceu do movimento coletivo de grupos culturais comprometidos com a valorização dos subúrbios como espaços de potência criativa. O festival circula por diversos pontos simbólicos da memória suburbana, questionando a distribuição desigual de recursos culturais na cidade.

"O Viradão surgiu para mostrar que esses bairros são dotados de criação cultural e merecem consideração das autoridades. Ninguém melhor para construir essa narrativa do que os próprios habitantes que estão dentro dos coletivos culturais", afirmou Soares. O pesquisador destacou que a zona norte concentra mais de 65% da população carioca, mas recebe investimentos per capita muito inferiores ao Centro e Zona Sul.

Programação diversificada e grandes nomes

O primeiro dia terminou com apresentações dos sambistas Dunga de Vila Isabel e Silas de Oliveira Jr. Ao longo do weekend, o público poderá assistir a shows de grandes nomes como Wanderlei Monteiro, Zé Luiz do Império, Raoni Ventopane, Didu Nogueira e Giza Nogueira.

A programação inclui debates sobre produção literária nas escolas de samba, participação feminina nas rodas de samba, tradição dos quintais suburbanos e conversas com compositores do Império Serrano. No domingo, haverá lançamentos literários e feijoada no tradicional Bar do Papa, em Cascadura.

Reconhecimento oficial e perspectivas futuras

Desde 2023, o Viradão integra o calendário oficial do estado e do município, por iniciativa dos então deputado Andrezinho Ceciliano (PT) e vereador Edson Santos (PT). O reconhecimento institucional representa importante conquista para os movimentos culturais suburbanos, que historicamente enfrentam dificuldades para acessar recursos e espaços.

O festival se consolida como plataforma de resistência cultural e ferramenta de questionamento das desigualdades urbanas. Mais que entretenimento, o evento funciona como espaço de reflexão sobre o futuro dos territórios populares cariocas, especialmente diante dos projetos de "revitalização" que podem impactar as comunidades tradicionais.

A programação completa está disponível no Instagram oficial do evento, reforçando o uso das redes sociais como instrumento de mobilização e divulgação cultural nas periferias cariocas.


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Por Jornal da República em 15/11/2025
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