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Por Michele Soares
Brasília, 28 de maio de 2025 – Após um silêncio que durou mais de uma década, o Brasil voltou a abrir espaço para o diálogo com a sociedade civil sobre os rumos da política ambiental. A 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, realizada entre os dias 6 e 9 de maio, marcou o retorno de uma ferramenta essencial da democracia participativa, em um momento em que o país tenta recuperar protagonismo global na agenda climática.
Com o tema “Emergência Climática e o Desafio da Transformação Ecológica”, a conferência reuniu representantes de todas as regiões do país, trazendo à tona vozes que, por anos, ficaram à margem das decisões ambientais. Foram mais de 2.500 municípios engajados e um número impressionante de propostas: mais de 2.600 sugestões vindas das etapas locais e de conferências livres espalhadas por todo o Brasil.
Essas ideias agora servem de base para a atualização do Plano Nacional sobre Mudança do Clima, documento que orientará as ações do país até 2035. Um gesto político relevante — mas também uma resposta urgente a uma realidade que bate à porta em forma de secas severas, enchentes destrutivas e temperaturas recordes.
Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a retomada da conferência representa mais que um evento: é uma reconexão com a sociedade. “Durante esses anos de silêncio, acumulamos uma demanda reprimida por participação e soluções. A crise climática não pode mais ser tratada como questão secundária”, afirmou, em discurso de abertura.
A ministra também reforçou que a construção de políticas públicas robustas passa pelo olhar de quem vive o problema na ponta. Por isso, a pluralidade da 5ª CNMA foi um de seus pontos altos — com representantes de comunidades tradicionais, cientistas, jovens ativistas e gestores públicos lado a lado, propondo caminhos para um Brasil mais resiliente.
Cinco caminhos, uma urgência
As propostas foram organizadas em cinco grandes eixos temáticos:
Este último tema, aliás, foi o mais citado nas conferências locais — um sinal claro de que a sociedade quer mais informação, mais participação e mais poder de decisão nas questões ambientais.
Pressão política e retrocessos à espreita
Embora o evento tenha representado um avanço importante, o cenário político brasileiro ainda traz riscos à política ambiental. Um exemplo recente é a aprovação, no Senado, de um projeto de lei que afrouxa o licenciamento ambiental para determinadas obras. Críticos chamam a proposta de “licença para destruir”, temendo que ela abra brechas para danos irreversíveis a biomas sensíveis.
O contraste é evidente: de um lado, um país que se organiza, discute e propõe soluções sustentáveis. De outro, setores que ainda veem a regulação ambiental como obstáculo ao crescimento, ignorando que não há economia forte em um planeta colapsado.
Em novembro, Belém será palco da COP30, a conferência climática da ONU. E é nesse contexto que o Brasil tenta se reposicionar como liderança ambiental. A 5ª CNMA não apenas dá lastro político à participação brasileira no evento global, como também sinaliza um novo capítulo: um país disposto a ouvir, dialogar e agir.
A expectativa é que o novo Plano Clima, a ser consolidado a partir das propostas da conferência, mostre ao mundo que o Brasil não apenas reconhece a gravidade da crise climática — como está disposto a enfrentá-la com responsabilidade e justiça.
A 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente não foi apenas um reencontro com a escuta pública — foi uma resposta à altura da emergência que vivemos. Enquanto eventos extremos se tornam rotina e os sistemas naturais entram em colapso, o Brasil dá um passo à frente: abre espaço para o coletivo, reafirma seu compromisso com o planeta e planta, enfim, as sementes de um novo tempo.
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