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Embora ainda pouco discutidos, o câncer de vagina e o câncer de vulva exigem atenção constante das mulheres e acompanhamento regular com o ginecologista. Apesar de surgirem na mesma região anatômica são doenças distintas, com comportamentos, sintomas e tratamentos diferentes.
O Dr. Caetano da Silva Cardeal, ginecologista da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Oncológica da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), explica que a primeira diferença está na anatomia. “A vulva é a parte externa do genital feminino, onde há pelos, e é composta pelo monte de Vênus, grandes lábios, pequenos lábios e clitóris. Já a vagina é o canal interno que liga a vulva ao colo do útero. Tumores externos são classificados como câncer de vulva; já os que surgem no canal vaginal são cânceres de vagina”, esclarece.
O especialista reforça que o câncer de vulva costuma ter crescimento mais lento e causar sintomas perceptíveis, enquanto o câncer de vagina, geralmente mais agressivo, pode evoluir silenciosamente e ser detectado apenas no exame ginecológico de rotina.
Os sintomas iniciais também variam e, muitas vezes, são confundidos com condições comuns. “O sinal mais frequente do câncer de vulva é a coceira persistente, mas também podem surgir manchas, nódulos ou feridas que não cicatrizam”, afirma Dr. Caetano. Ardor ao urinar, frequentemente confundido com infecção urinária, e dor durante a relação sexual também merecem atenção. Já no câncer de vagina, os indícios tendem a ser menos evidentes: sangramento fora do período menstrual ou, após a menopausa, corrimento anormal, dor durante a relação e sensação de nódulo ou massa na região pélvica.
Os fatores de risco também diferem, embora ambos tenham relação direta com a infecção pelo HPV, principalmente pelos subtipos 16 e 18 - prevenidos pela vacina. No caso do câncer de vulva, além do HPV, o líquen escleroso (doença autoimune que causa atrofia e prurido intenso) é um fator importante a ser considerado, especialmente em mulheres pós-menopausa. Tabagismo, imunossupressão, presença de lesões precursoras e histórico de tratamentos como radioterapia também aumentam o risco. “Mulheres fumantes, por exemplo, ou que já tiveram lesões na vulva precisam de acompanhamento mais rigoroso”, afirma o especialista. Já para o câncer de vagina, o principal fator continua sendo o HPV, especialmente em pacientes que já apresentaram neoplasia intraepitelial cervical (NIC) ou vaginal.
Diagnóstico
O diagnóstico é feito por avaliação clínica mais detalhada. Na vulva, o ginecologista observa manchas, feridas e irregularidades e, se necessário, realiza a vulvoscopia para ampliar a visualização da área suspeita. “Feridas que não cicatrizam por mais de três semanas e associadas a prurido devem ser biopsiadas”, alerta o médico. Já o diagnóstico do câncer de vagina depende do exame especular, que permite visualizar todas as paredes do canal vaginal. Se houver suspeita, são realizadas colposcopia e biópsia. Após a confirmação, exames de imagem como ultrassom, ressonância magnética, tomografia e PET-CT complementam e orientam o tratamento.
Tratamentos
Os tratamentos variam conforme o estágio da doença. No câncer de vulva, a cirurgia é o tratamento padrão nos estágios iniciais, podendo incluir retirada da lesão e, em alguns casos, dos linfonodos inguinais. Para tumores maiores ou avançados, combinações de radioterapia e quimioterapia podem reduzir a doença antes de uma eventual cirurgia. Já no câncer de vagina, apenas tumores muito pequenos (menores que 2 cm) costumam ser operados; para os demais, a radioterapia associada à quimioterapia é o tratamento mais comum. “Quanto mais precoce for o diagnóstico, maiores são as chances de cura”, enfatiza Dr. Caetano. Tumores iniciais de vulva têm índices de cura entre 80% e 90%, já nos casos mais avançados - com linfonodos comprometidos, comprometimento de vagina e ânus - essas taxas caem, mas ainda com possibilidade de tratamento. A imunoterapia também começa a despontar como alternativa em pesquisas para casos específicos de câncer de vulva.
O especialista reforça que a prevenção e o diagnóstico precoce são fundamentais. A vacinação contra o HPV, o acompanhamento regular com o ginecologista e a atenção às mudanças no corpo são medidas essenciais. “Conhecer a própria vulva e procurar atendimento diante de qualquer alteração é um passo decisivo para identificar precocemente lesões que podem salvar vidas”, finaliza.
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