Psicanálise no esporte: Valéria Gonçalves leva cuidado emocional às esposas e namoradas de atletas

Psicanálise no esporte: Valéria Gonçalves leva cuidado emocional às esposas e namoradas de atletas

Quando a bola rola nos gramados, é comum que todas as atenções se voltem aos jogadores. Mas, nos bastidores, longe das câmeras e dos holofotes, há uma rede silenciosa que sustenta, acolhe e acompanha os altos e baixos da carreira esportiva: a família. Pensando nisso, o Método MR3, criado por Lulinha Tavares, referência nacional em treinamento mental e atualmente responsável pelo departamento de performance do Corinthians, passou a ampliar seu foco também para os familiares dos atletas. E é neste ponto que entra a atuação da psicanalista Valéria Gonçalves, responsável por acolher emocionalmente esse público tão fundamental quanto invisível:  esposas, noivas e namoradas de jogadores de futebol. 

Com formação clínica e larga experiência em atendimentos voltados ao universo esportivo, Valéria é uma das peças-chave na estrutura de saúde e performance mental do MR3, que hoje é mais do que um método; é uma empresa que oferece um suporte multidisciplinar com treinadores mentais, psicanalista, treinador cognitivo, gestão de redes sociais e assessoria de imprensa para atletas. Valéria quem atua diretamente com as mulheres que dividem a rotina, a pressão e os dilemas com atletas de alto rendimento.

A valorização do cuidado emocional com familiares de atletas é uma tendência que vem ganhando força em diversos países. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Major League Soccer (MLS) já oferece suporte psicológico não apenas aos jogadores, mas também a seus cônjuges e filhos, reconhecendo que a estabilidade fora de campo impacta diretamente a performance. Na Inglaterra, a Professional Footballers’ Association mantém uma rede ativa de conselheiros voltados ao bem-estar de atletas e seus familiares. Já na Austrália, a liga de futebol australiano (AFL) lançou uma política nacional de saúde mental que inclui suporte psicológico ampliado para todo o círculo do atleta.

Esse movimento reflete uma compreensão mais ampla do que significa alta performance: ela não se limita ao físico ou ao técnico, mas passa também pelo equilíbrio mental e emocional do núcleo familiar. Parceiras de atletas têm se tornado cada vez mais protagonistas nesse debate, com iniciativas como podcasts, grupos de apoio e presença em campanhas públicas. Tudo isso mostra que o acolhimento das mulheres que acompanham jogadores profissionais não é apenas uma medida de cuidado - é uma estratégia de fortalecimento da carreira esportiva como um todo. 

“A mulher do jogador de futebol vive uma realidade que muita gente não imagina. São mudanças constantes de cidade ou país, isolamento, pressão pública, exposição nas redes e uma rotina familiar toda baseada no desempenho do companheiro. Isso tudo impacta a saúde emocional. E é aí que meu trabalho entra: oferecer um espaço seguro de escuta, fortalecimento e reconstrução da identidade”, afirma a psicanalista.

Segundo Valéria, muitas das companheiras que chegam até ela relatam sentimentos de solidão, ansiedade e até perda de identidade. “Elas não são apenas acompanhantes da carreira do outro. Elas também têm sonhos, dores, memórias, histórias. Muitas estão lidando com maternidade sozinhas, outras abriram mão de projetos pessoais por conta da rotina do futebol. Meu papel é ajudá-las a resgatar quem são, além do rótulo de ‘esposa de jogador’”, pontua.

Essa abordagem mais humanizada tem trazido resultados visíveis - não apenas na vida das mulheres, mas também no próprio desempenho dos atletas. Ao verem suas companheiras mais fortalecidas e seguras emocionalmente, muitos jogadores relatam melhora na concentração, no foco e na estabilidade emocional dentro de campo.

“Futebol não é só força física, técnica e tática. Há muito sofrimento psíquico por trás de uma má fase ou de uma lesão. E esse sofrimento muitas vezes começa ou se intensifica em casa. Por isso, cuidar da base emocional do atleta passa também por acolher quem está ao lado dele todos os dias.”

O trabalho desenvolvido por Valéria Gonçalves dentro do MR3 mostra que, quando o cuidado é ampliado para além do campo, todos ganham: atletas, famílias, clubes e o próprio esporte. Ao reconhecer que o sucesso de um jogador está profundamente ligado à saúde emocional do seu núcleo afetivo, o método abre caminhos para uma nova visão de performance - mais completa, mais humana e, sobretudo, mais verdadeira.

Por Jornal da República em 04/07/2025
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